quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Sangue de peixe


Sem saber...

Tengo, lengo, tengo

Morreu o imortal.

Sem querer,

Lara, lara, iê,

Cortou-se

Outro mal,

Pela raiz.

 

Para mim,

Pilim, plimplim

Não se queria

Desse jeito

Esqueceu

Da flor vermelha,

Da nossa nova

Água que sobe.

 

Água horizontal

Chuva para cima

Verso sem rima

Pisar no abissal

Correr na água

Para a sereia

Sangue de peixe

Na nossa veia.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 13122023)

alpercatas do tempo


... as estradas do meu coração

sentem quando troco as alpercatas

também quando a vida é descalça

quanto mais ando, mais vejo chão

os caminhos sabem o que visto

sabem até o meu jeito de andar

na areia do nosso riacho seco

as panelas não são tão areadas

vi, onde fora uma nascente,

ser um olho d’água desativado

corro nas veredas do gado

traçando hipotenusas lógicas

para atalhos de bichos na terra

nas planícies, no ar, no mar

e em todas as nossas serras...


 (cristiano jerônimo – 13122023)

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Todo Absoluto

Frida Kahlo


Nossa Senhora de Guadalupe

Nos dê firmeza, ouro e coração

Também nos traga a saúde

Sempre com a plenitude

Praticando a nossa razão;

Sobrepondo-se sentimentos

Quando nós relativizamos

Batem os bons pensamentos

A nascente viva do clarão!

Branco como a cegueira

Negro como o céu de estrelas

Azuis como os nossos planetas

A nobreza daquela missão

Uma criança white, outra blue...

 

O firmamento, do norte ao sul,

se expande desde a explosão

para a reimersão do Eu

no Todo Absoluto.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 05122023)

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Diante do Infinito



TOMVS l

 

Ah! Coco bom à beira mar

Ah! A ciranda feita pra girar

No ritmo da caixa a cantoria

Vestido rodado de dona Lia

Rainha da Praia, reina sozinha

Faz oferendas para Iemanjá.

 

A brincadeira e o brinquedo

Fazem a vida de um brincante

Nenhum carnaval é como antes

Nem quem toma azougue tem medo

Na zona da mata norte tem lanças

Os meninos de toga, as crianças

De geração em geração, o segredo.

 

Gira o samba de coco sertanejo

No Agreste dança o Preto Limão

Eita estado de poesia em fartura

São José do Egito e sua literatura

Eleva-se nas falas da poesia popular

No Arararipe tem o baião de Gonzaga

Uma Veraneio corre longas estradas.

 

TOMVS ll

 

Um joão-de-barro faz uma casa duplex

Esculpe no barro o seu próprio cotidiano

O que se perpetua de ano a ano e anos

Tal uma encomenda que não é via sedex.

 

Nosso irrastreável pensamento humano

É escondido e nem mesmo nós acessamos

Às vezes não estamos no ninho nem no ar

A dança da conquista é de coração e pano.

 

Tudo foi ledo engano, a terra voltou a girar

Giro ao sol, atrai a lua em sua órbita rente

Espirala o vapor gigante da nossa via láctea

Conseguem ver o que está indo e voltando.

 

O Universo se retroalimenta nos buracos negros

A matéria expande a nossa lei da relatividade

No limite do local aonde chega na beira do caos

Tudo que está fora e dentro é cristalina verdade.

 

Tudo é do Pai!

(Cristiano Jerônimo – 30/11/2023)

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Ferida maldita



Aos algozes da mata, às gerações ingratas

 

Nenhum raio lhe atingiu

Só o sabor do vinho tinto

O gás propulsor do vinil

O óleo que cobriu o abril

Seis animais estão extintos

Grudou piche de petróleo

Nas exóticas tartarugas

Que vão e vêm de África

Pelo mesmo trajeto

Pelo mesmo caminho

Eles sabem o que é

Esses loucos sabem

Do que se trata isso?

Nenhum raio lhe atingiu

Os trabalhadores

Ainda são escravos

Assalariados

E o trabalho precário

Atinge o mundo todo

O esperto e o otário

Pegou o Raimundo...

Também pudera

Ele era professor

Ninguém valorizava

Nem o MEC chegava

A um terço do Brasil

Ficamos sem educação

Eternamente índices

Quase sempre alarmantes

Como trombas de elefantes

Como os bichos-pau

Das florestas, das matas

Das atitudes ingratas

Dos garimpeiros sem alma

Do resto dos índios mortos

A ele nenhum raio atingiu

Até que sua toca explodiu

Não restaram nem os ossos

Nem as mães pegaram filhos

Atentaram contra a tua vida

E tu ainda lambes esta ferida

Maldita.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo – 28/11/2023)

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Filhos da dúvida


Filho de cabra é cabrito

Filho de ovelha é borrego

Filho de vaca é bezerro

Filho de Deus é espírito

Filho de homem é ganância

Filho do filho é infância

Filhos são pobres ou ricos

Filho de jegue é jumento

Filho de pato é patinho

Filho de pássaro no ninho

Filho de bacurau agourento

Filho de peba é tatuzinho

Filho de estrada é caminho

Filho de todo o ar é o vento

Filho de rosa é espinho

Filho do sol é sistema

Filho da selva é selvagem

Filho da vida é viagem

Filho da dúvida é teorema.

 

(Cristiano Jerônimo – 27112023)

sábado, 25 de novembro de 2023

As fases de Heterius Simiuns


Ele era apenas um garoto querendo saber

Dos auspícios e do sentido em seu viver...

A sua precisa latitude, longitude no cosmo

O macro e o microscópico coração humano.

 

Um rapaz trilhando os primeiros passos

A vida crescendo com toda maturidade

Olha a vida do alto com os altos e baixos

Leva para a casa o ouro do seu sustento.

 

Já homem, teve que aprender de novo

Eram duas estradas e um trajeto apenas

Apostou no mais justo para o povo

Escreveu como se escreve em Atenas.

 

Uma figura idosa com o cérebro bom

Mapeado em ressonância recente

Arrisca estar num paraíso secreto

Mantando as ideias firmes na mente.

 

Já findo, traz várias vagas lembranças

Dizeres, saberes, eternas esperanças

Como os homens vestidos de crianças;

Aquelas que estão dentro de cada um.

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 25/11/2023)

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

As pratas do açude - Séculos XVI e XXI


(Ficção)

Branca Dias busca na noite preencher o vazio

Nas noites chuvosas passa chuva e passa frio

Procura um estado que voou no espaço vácuo

Às vezes cava e procura o seu próprio buraco.

 

Pelas noites, cais do porto, a ilha de ninguém

Senta-se no Scotch Bar esperando alguém

Que está no píer, do outro lado do porto

No braço antigo do nosso rio agora morto.

 

Pontais privatizados e praias particulares

Impedem a passagem do cortejo de iemanjá

Aterro e motoserra em todos os lugares

Piche para lacrar a terra e nunca mais voltar.

 

Pedras por cima de pedras, cordilheiras

Dentro de um prédio desabado na poeira

Resgatada sã pelas tropas holandesas

Condenada pela alta corte portuguesa.

 

Antes de ir para Porto queimar na fogueira

Considerada judaica com a sua prataria

Jogou-se num açude de mata atlântica

As águas agora são cor de prata cristalina.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 24112023)

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Das diferenças iguais



TOMO I

 

Ela gosta de rock

E eu de pagode

Eu fico na minha

Ela vai e sacode

Acorda cedinho

Acordo de bode

Será que pode?

Ela gosta da sombra

Eu fico no sol

Ela se cobre de frio

Eu descubro o lençol.

 

TOMO II

 

Anda de botina em Irajá

Abala a Frei Caneca

Gosta de sempre desfilar

De arrumar-se uma boneca

Desfilar o curativo escondido

O rock correndo na avenida

O xote e chão de barro batido

Todas se misturam em profusão

Mexem tudo dentro do caldeirão

Cozinham sopa de letrinhas azuis

Escutando o melhor do blues

Vivendo no fundo do mar turbilhão.

 

TOMO III

 

Ele fala de uma vasta mitologia

Ensinamentos mais antigos

Trata de amigos e inimigos

Das qualidades e cruezas do ser

Da confiança e da traição

Do poder da mente e do coração

Nas fileiras, um a um no sol

As asas de cera que derreteram

Afrodite e a paternidade de Zeus

Onde os caídos se meteram

E terminaram juntos e sós.

 

TOMO IV

 

Chiclete de melão e de banana

Refrigerante sem suco natural

O sabor da doce futa pinha

Cuscuz com cozido de galinha

Uma mesa de dois lados

Uns comendo calados

Outros falando mal

De um canto para o outro

Nada parece tão normal

Quando canta o bacurau

Que assusta na estrada

Olha-se para o céu estrelado

Acha-se o astro do amor guardado.

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano -23112023)

 

 

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

A sirene não vai mais tocar


Florestas nunca serão soldados

Borboletas não virarão drones

Os cometas voam sem destino

Estrela cadente não será míssil

A paz estampada no menino

Canhão transformado num sino

A sirene não vai mais tocar

Favela, um conjunto de bunkers

Não precisa mais de nome

A sirene não vai mais tocar

Na cidade, seria comunidade

Muito lixo e carbono, um luxo

Mas as potências destruindo

A camada protetora de ozônio

Nunca mais serão tão carros

O planeta não é um beisebol

O cotidiano não é americano

Apenas lutar para poder ser

O que não é e que lhe aliena

Os fuzis espalhando as luzes

Os quartéis quietos no lugar

Mas uma coisa parece certa

Florestas nunca serão soldados

Os falcões nunca vão nos atacar

Os cometas vão achar seu destino

Estrela cadente não será míssil não

A paz estampada no menino

Canhão não será mais que um sino

E as sirenes não vão mais tocar...

 

 

(Cristiano Jerônimo – 13112023)

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Qualquer hora


Deixa

as telas

Em branco

Mexeu com vidas

reabriu feridas

Que o tempo

arranhou

com o espinhos

encabulados

Mas a terra me curou

O vento

Trouxe

No ar

Um tom

Ora doce

Ora amargo

Ora adoçado

Com maresia.

 

Separados,

derramar

O mel

Que não

era doce

Parecia

apenas.


Cristiano Jerônimo - 17/11/2023



 

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Na velocidade

 

Coragem, coragem

Temos que caminhar

Não é só uma miragem

No deserto ou no mar

Rasga os céus

Roda as terras

Visões externas

Para enxergar

As belas serras

As catedrais

Arranha-céus

As tabernas

As cavernas

Do pensamento

Lacunas celestes

A sombra clara

No mundo inteiro

Rasgando a luz.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 04112023)


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Vida pública, vida privada



Um vinho tinto

Taça boca larga

Tangerina creme

Nunca se acaba

Sempre se sente

A qualidade

O referencial

Destas verdades

O vendaval

Vidas perdidas

No caos social

Bala perdida

Não perdoa ninguém

Perdoar é pros fortes

Tem a ver com anjos

A paz neutralizadora

Nem há mais inimigos

Não é para se preocupar;

Trata-se de um destino.

Com isso, matam meninas

Como morrem os meninos.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 01.11.2023)

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Ela faz acontecer


Poema infantojuvenil 

especialmente para minha filha-amiga Aurora Pereira


Eu sei de uma menina inteligente

É muito minha filha e amiga fiel

Adora desenhar e pintar no papel

Ela gosta de ajudar a sua gente

Aurora é uma menina solidária

Com atitude, tem veia literária

Aurora é um amor de menina

Está tão crescida e inteligente

Criança linda que não mente

Nem perturba colegas na escola

Como essa menina é estudiosa!

Elogiada pelas misses professoras

Com bênção da Virgem protetora

E os cuidados da melhor mãe

Aurora é sensível e é artista

Desenha coisas tão bonitas

E brinca com as suas amigas

Ela gosta de correr e de piscina

Curiosa com aquilo que fascina

Já sabe o que é certo ou errado

Fica sempre do correto lado

Tem um abraço lindo e apertado

Aurora não anda, ela desfila

É uma excelente menina e filha

Mãe de Joaquim, neto querido,

Vai passear num campo florido

E pode escolher o que quer ser

Vai à escola em todo amanhecer

Ama seus colegas e faz acontecer

Aurorinha é demais!!!!!!!!!!!!!!!!!

 

(Cristiano Jerônimo – 26.10.2023)

Algum paradoxo

Só sonha quem tem fé Só chega quando anda Olhar só da varanda Não gasta a sola do pé Ser sempre muito forte Não contar com a sor...