Posso voltar a pular
dentro do depósito
de algodão de vovô
e sentir o macio
do meu corpo
de criança.
Posso comer
fruto de palma
nas passagens
da roça farta
nada falta,
nesta criança.
Léguas vividas
em carros-de-boi
subindo a Serra
do Minador
e do vale
do Boqueirão
da Barra
que farra!
Posso comer
queijo ricota
derretido
no tacho
a farofa
da minha avó
raspas de queijo
de manteiga
com farinha
de mandioca.
Posso tomar
maravilhosos
banhos no riacho
sempre
que uma enxurrada
me deixe em êxtase
posso me banhar
no sangradouro
do Açude dos Paes.
Posso subir a serra,
íngreme, de moto
tomar leite de vaca
leite de cabra
puxa-puxa
da madrinha
tirar colméias
e comer o mel
andar na roça
e comer melancia
chupar cana
comer banana
mamão e lichia.
Além da lembrança,
posso viver hoje
o meu passado
mais sublime.
Quando volto,
eu sinto a fartura
e o flagelo da seca
numa dicotomia
que me leva
a reviver e relembrar.
(papel, caneta e word
para poder registar).
(cristiano jerônimo –
12032021)