Cristina olhava pela janela do seu quarto a
paulatina aglomeração de nuvens, que ensombravam a paisagem enquadrada pela
janela aberta. Seus irmãos estavam na roça e eram quase cinco horas da tarde. O
volume veloz da água estourou açudes e cercas, levou animais. O terror logo se
fez presente, quando o ribombar dos trovões e o reluzir dos relâmpagos entraram
em cena, como estouros e pipocos, raios múltiplos na imensidão.
Os olhos de Cristina esbugalhavam-se de medo,
mas não conseguiam parar de olhar para a terrível tempestade que já despencava
das alturas. Suplicou, com fé. E agiu para enfrentar a chuva de granizo que
deitava no chão e no telhado, onde as goteiras enchiam baldes. E cada vez o seu
medo se tornava menos infinito.
Passadas algumas horas, a tempestade se foi e o
sol brilhou com muita intensidade, enxugando o que tinha vindo de muito, graças
a Deus. O ar era o mais puro, parecia ressaltar as cores da natureza
encharcada, aguada. Com certeza, todos foram plantar, criar e aproveitar a
terra molhada para colher.
Acalmou-se a menina sem atinar que o Astro-Rei
nunca deixou de brilhar, acima das tormentas passageiras. A luz necessária é
doada diariamente, no mesmo horário, sem nunca ter sofrido um atraso. A lua
aparece do mesmo jeito. O universo de Cristina estava lá.
Dona Pérola explicou que nós agimos assim
constantemente e muito sem perceber. Diante de problemas e dificuldades, ficamos
aterrorizados e às vezes perdemos a esperança. Tudo isso, fruto da nossa fé,
que ainda é muito frágil.
Não! Não! Não! Cristina precisa sim ter em mente
que, por pior que sejam as tormentas em que nos situemos, o Sol do Amor de Deus
jamais deixará de nos sustentar e que, passado o vendaval, podemos sair
reluzentes, se mantivermos uma atitude resignada, tal qual a natureza. Que
possa ela, então, ter em mente uma certeza: Nunca estaremos desamparados.
(Cristiano Jerônimo – 17112019)