domingo, 13 de julho de 2025

A rosa e o infinito

 


Para o braço da Índia, Edineyde Ferraz, made in Floresta/PE

 

Os riscos no seu braço

não representam riscos

são abraços dos filhos

as marcas do tempo

em que passamos

distantes e juntos.

 

Em tudo que pensamos

Reencontramo-nos

Pela porta da frente

De agora em diante

O sertão é nosso

Muito mais do que resta

Sob nossa Custódia

Em uma Floresta.

 

No Rio São Francisco

Flutua a nossa canoa

No Capibaribe a gente voa

Nas bicas encantadas

Das nossas aventuras

Nos olhos d’águas

Do mato que entramos

Desde ilhas adolescentes.

 

Agora você volta sem ter ido

Eu reapareço sem ter partido

Para resolver essas décadas

Que conservaram a libido

Viva, quente e bem intacta

Merecedora deste infinito

E desta rosa, e de uma flor

Num campo fértil ao amor.

 

  

(Cristiano Jerônimo – 13.072025)

sábado, 12 de julho de 2025

Paz sem guerras



Tem hora

que a maior vitória

é não vencer a guerra.

 

A luta também se vence

retirando o Exército

e dominando o novo.

 

Um novo território

menos inóspito e

complicado.

 

A Infantaria

surpreende

o adversário.

 

Guerra é guerra;

não há paz

na tirania.

 

A paz faz mais

pelo direito

à democracia.

 

Eu também

não tenho medo

de perder a batalha.

 

Já que, ao final,

todos os lados

sempre ficarão 

com suas tralhas.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 11.07.2025)

 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Sentimentos e tal



O tempo voa

nas asas do condor

acima dos Andes

segue o amor

nos corações alados

que às vezes pousam

ora descem forçados

tão disfarçados

sobem na dor

e remoçados

planam no calor

com asas de frio

e bico de flor.

 

Nos oceanos

cabem milhões

de pituitárias

no coração

dos peixes vazios

no andar dos rios

pleno verão

nesta chuva

os sabores

diversos

moram na alma

masculina

feminina

no olhar pineal

da melatonina

no sono-vigília

circadiano cerebral.

  

(Cristiano Jerônimo – 10.07.2025)

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Sertão VII

Antiga sede da Fazenda Mimoso, onde viveram meus bi, tri e tetravós Rezende


Ao meu nobre tetravô, Domingos Rezende 

Sobre rochedos de pedras,

os meus ancestrais plantaram

raízes no sertão.

 

Dos olhos d’água,

extraíram o mel da cana

e a rapadura do melaço.

 

A farinha foi o método

de refino mais rudimentar

e divino que eu já vi.

 

Onde não chove,

a água reina como gotas

dos olhos do rosto do céu.

 

Mas os homens construíram

estradas e trilhos,

e nada mais ficou no lugar.

 

 (Cristiano Jerônimo – 09.07.1974)

Quiser Ser Mulher



Para Catia B.

 

Forjada na dor

constrói no amor

o seu porto seguro

na sua delicadeza

árdua no escuro

de simplesmente ser

e de seguir a natureza

que em tudo habita

seus amores nobres

chegam e afagam

seu instinto de mãe

seu destino de mulher

sua nobre afirmação

de ser o que quiser.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 08.07.2025)

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Chance vital


Mesmo enquanto um ser empata,

percebo a simpatia das pessoas

como uma faca de dois gumes.

Porque numa sociedade sociopata

não é Narciso que resolve o defeito;

só porque se apaixonou por si mesmo,

não tem os traços da psicopatia.

Ninguém sai para sofrer sozinho

ferindo a si e pensando que é carinho.

 

Eu tenho trinta, trinta e poucos anos.

Do alto dos meus cinquenta planos,

farejo de longe todos os desenganos;

falácias, sofismas e vagabundagens.

Farejo notícias falsas e o descontrole;

sinto sensitivamente as entrelinhas

pois nelas reside a verdade das coisas.

 

A velhice das pessoas é a escolha final

Só após a morte se terá outra chance,

Vital!

 

 

(Cristiano Jerônimo – 06.07.2025)

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Roteiro para o avesso da iniquidade



E...

Despir-me das vestes que não servem

Vestir-me do que tenho de melhor

Ser eu mesmo sem agonia e com calma

Não valorizar mais do que não têm a ser

Ter aquilo que me traz a paz que falta.

 

E...

Numa sincronia cósmica e elevada

Manter a ética diante das tentações

Trocar o mais fácil pelo mais difícil

Rir das próprias tolices e puerilidades

Não julgar, de verdade, a certeza alheia.

 

E...

Espalhar dignidade pelo mundo afora

Colher e se alimentar de bons costumes

Banhar-se em águas que evaporam e voltam

Mergulhar em águas correntes e profundas

Sem se aprisionar às ilusões mais rasteiras.

 

E...

Não ligar para tanta iniquidade e besteira

Ver no céu o mapa de tudo o que nos rodeia

Reaprender com os Maias, Incas e os Astecas

Descobrir, afinal, o segredo das pirâmides

Não precisar de dinheiro para chegar ao céu.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 02.07.2025)

terça-feira, 1 de julho de 2025

A terapia do gado


Eu ando tão carente de terapia

Como de bode assado sertanejo

Preciso de uma nova melodia

Com um escudo, eu me protejo

Ter sementes para tantas terras

Com chuvas de pingos de ouro

Leite de cabra, cabritos berram

Domesticado, sou bicho fidalgo

Subindo, descendo essas serras

O vaqueiro valente busca o gado

Ante a marra feroz do meu touro

E do esconderijo daquele tesouro

– Uma botija que herdei de vovô

O irmão virou um grande doutor

A vaca saiu para sempre do brejo

O que já foi feio virou o mais belo

E o que não era bom, só melhorou.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 01.07.2025)

Duvido



Eu desconfio de quem está sempre feliz,

E a tristeza também não me convence.



CJ - 30.06.2025

segunda-feira, 30 de junho de 2025

No topo da pirâmide vulgar


Do alto da minha infância,

vi uma criança adulterada.

Havia uma grande crença,

mil mulheres abandonadas

elas enganando enganadas

passando no nosso caminho

percorrendo a nossa estrada.

 

Quem sou eu para ir julgar?

no topo da pirâmide vulgar

na doença que não se trata

na doença que se maltrata

na velhice de andar sozinha.

 

E não ver nos rostos a alegria

só agonia e lamentos que ferem

acolhe-se, ama-se e adquirem-se.

 

O afeto afetado é um engano

o engano é um pássaro sem asas

que voa, mas nunca vai pousar.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 30.06.2025)

quinta-feira, 26 de junho de 2025

O meu canto é o Sertão


Eu sou real o tempo todo. Menos quando penso com palavras.

 

Eu faço séries de farsas e a verdade vem no final do episódio.

 

Com os roedores do boqueirão, aprendi a correr da pólvora.

 

Como o talho da folha do jerimum, tenho um vazio do tamanho da própria abóbora dentro de mim.

 

E quando chove, algo mais do que água cai do céu no sertão.

 

Com as lagartixas, descobri que o rabo cresce de novo. Diferente dos cães e dos gatos.

 

A casa de farinha é a igreja do trabalho em equipe.

 

O engenho e a cor, na dor, não se misturam. Um é sempre doce e o negro ainda amarga.

 

Quilombolas e indígenas me preencheram muito mais do que as casas-grandes.

 

Roubar cera de abelhas é mais legal por elas reporem todos os dias.

 

A mãe da lua era para ter sido minha melhor conselheira, mas falaram muito mal dela pra mim.

 

Com os “doidos” do terreiro de casa tive meus maiores momentos de lucidez. Era pura inocência.

 

Quando pequeno, eu criava latas alimentadas por terra.

 

A paciência que eu tive foi esperar o riacho encher novamente. Até hoje eu aguardo.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 26.06.2025)

A rosa e o infinito

  Para o braço da Índia , Edineyde Ferraz , made in Floresta/PE   Os riscos no seu braço não representam riscos são abraços dos f...