O
meio é produto do homem e a essência muda a existência
Cristiano
Jerônimo*
O
ser humano não teria sobrevivido a milhões de situações caóticas e devastadoras
que assolaram e ainda acometem a terra de forma funesta, se não soubesse que
não poderia mesmo ser um produto do meio. Foi preciso reagir a inúmeros predadores,
acidentes geográficos, intempéries e uma gama de situações caracterizadoras de
risco de morte iminente. Com uma expectativa de vida na média de menos de 20
anos, naquela época, perceberam que juntos era melhor do que separados. O instinto
de sobrevivência humana é um dos maiores do reino animal e quando se vê acuado,
busca forças onde não tem, ou para fugir ou para enfrentar. Andando em bandos, os
hominídeos começaram a se agrupar e a história todos conhecemos: passamos a
viver cada vez mais em sociedade, tendentes a homogeneizar o pensamento, mas
cada criatura sendo uma peça da engrenagem que gira o papel do dinheiro do
capitalismo, expresso na Constituição Federal de 1988: “O Brasil é um país
capitalista”. Agora está consolidada a ditadura da escravidão do consumo e das
aparências. Do poder ter e não puder. Assim, o homem conseguiu e consegue
comprovar que, ao invés de ser produto do meio, na verdade é ele quem o
transforma o ambiente para se adaptar às suas circunstâncias e necessidades.
Isso
talvez explique a resignação e, ao mesmo tempo a indignação, do homem do campo
do Nordeste, que sofre a seca que castiga, mas não está parado nem em depressão.
E explique, ainda, que as crianças há 30 anos vendam pipocas baratas nos sinais
do calabouço citadino. E dê sentido ao instinto de sobrevivência aguçada, assim
para se “prevenir” com grandes barragens, as hidroelétricas e até corridas
espaciais inimagináveis. Entendendo também que o tal humano modifica seu meio,
por exemplo, devastando a Amazônia, pintando e bordando com o planeta.
O
filósofo existencialista francês Jean Paul Sartre afirma que “é fato que nenhum
ser humano nasce pronto, mas o homem é, em sua essência, produto
do meio em que vive, construído a partir de suas
relações sociais” e
completa: “O homem é historicamente determinado pelas condições,
responsável por todos os seus atos por ser livre para escolher”. Contudo, sob a
ótica existencialista de que “a existência precede a essência”, podemos perceber
um pequeno equívoco, porque, depois de existir, e formar uma essência, os fatos
mostram que o ser humano é capaz de construir uma ponte Rio-Niterói, no mar,
para facilitar o tráfego dos veículos; destruir milhares de árvores para fazer
dormentes, que – Segundo o Aurélio –, “é uma peça, em geral de madeira, em que
se assentam e fixam os trilhos das estradas de ferro para
por os trilhos para o trem passar”. Já concordei por muito tempo e agora, de
forma pessoal, discordo de Sartre, porque por mais que “a existência preceda a
essência”, esta mesma essência poderá modificar a existência, íntima e geograficamente
falando.
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Cristiano Jerônimo é poeta e jornalista
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