Quando se trata de poesia,
especificamente, os números são desafiadores para os escritores
* Cristiano Jerônimo
Premissa inicial. Vamos chamar de leitor aquela
pessoa que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos meses. O
não leitor é aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos três
meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses. Na balança do ler e não ler,
os resultados não são tão animadores, de acordo com a última pesquisa Ibope/Instituto
Pró-Livro (IPL), Retratos da Leitura no Brasil. Essa é a quarta de uma série de
quatro levantamentos iniciados em 2007 pelo IPL. No levantamento de 2007, 45%
dos brasileiros não liam. Onze anos depois, se constata que evoluímos somente
um ponto, porque agora ‘apenas’ 44% da população continua torcendo o nariz para
a leitura. Em 2011, esse resultado ficou dividido exatamente ao meio: 50% e
50%. E com a margem de erro, continua tudo igual. Meio a meio. Somado ao fato
de 30% nunca terem comprado um livro sequer, vemos que a realidade é mesmo
preocupante e que precisamos implantar políticas de fomento à leitura e à
escrita. E só a próxima pesquisa da série Retratos da Leitura no Brasil poderá
nos revelar se evoluímos ou não na leitura. E se são eficazes as poucas
políticas de incentivo e trabalho com a literatura, em particular a poesia.
MOTIVOS PARA
LER
Entre os que leem, o IPL/Ibope constatou que as
razões pelas quais a pessoa investe em leitura são as seguintes, por ordem de
citações: gosto; atualização; distração; crescimento pessoal; motivos
religiosos; livros didáticos; e por trabalho. Já os fatores que influenciam na
escolha de um livro são: tema ou assunto; dicas de outras pessoas; autor;
título do livro; capa; dicas de professores; e críticas/resenhas. No ranking
das influências, as redes sociais aparecem com 10%, perdendo para o título do
livro e a capa.
POR QUE COMPRA
LIVROS?
“O ‘tema ou assunto’ influencia mais a escolha dos
adultos e daqueles com escolaridade mais alta, atingindo 45% das menções entre
os que têm ensino superior. Já a capa de um livro é o principal motivo de
escolha na faixa etária entre 5 a 13 anos. Nas idades correspondentes aos
ciclos da escolarização básica (ensino fundamental e médio) as ‘dicas de
professores’ são mais influentes para aqueles que estão entre 5 a 10 anos de
idade. Já o item ‘Blogs’, explorado em 2015, obteve menos de 1% das menções”,
descreve a pesquisa.
LITERATURA
AMARGA 9%
Quando a gente pensa na leitura da literatura
brasileira e estrangeira, os números são desastrosos, mas não devem ser
desanimadores. Ao todo, 54% da nossa população não leem romances, contos ou
poesias. E apenas 9% consomem livros de literatura. Observe que os maiores
leitores (54%), no geral, são de jornais, revistas, internet, livros didáticos
e profissionais. Literatura, em sua
maioria, pode se traduzir em romance, contos e poesia.
OS MAIS
CITADOS
Bíblia, religiosos, contos, romance, didáticos (livros
utilizados nas matérias do seu curso), infantis, história em quadrinhos, gibis
ou RPG, poesia, história, economia, política, filosofia ou ciências sociais, ciências,
culinária, artesanato, técnicos ou universitários (para formação profissional),
saúde e dietas, biografias, e autoajuda são os gêneros mais citados, pela
ordem.
POR QUE NÃO LÊ?
As principais razões alegadas para não ler são a
falta de tempo, preferência por outras atividades, não ter
paciência para ler,
não haver bibliotecas por perto, acha o preço de livro caro, se sente muito
cansado para ler; não gosta de ler, não tem dinheiro para comprar, tem
dificuldades para ler, onde mora não tem um local onde comprar, não ter um lugar
apropriado para ler, e falta de acesso permanente à Internet. Os entraves para
a leitura, de acordo com os pesquisados, são: não ter paciência para ler, ler
muito devagar, problemas de visão, ou outras limitações físicas, não ter
concentração suficiente para ler, não compreender a maior parte do que lê. São
dificuldades que emergem das escolas sucateadas, professores mal remunerados e
sob pressão constante. Para todos os mestres e literatos, lancemos um desafio:
lutar para que o percentual de leitores no Brasil supere, cada vez mais, a
percentagem de brasileiros que não sabem o que é um livro.
Iniciativas como as Bibliotecas Itinerantes dão acesso aos livros |
O QUE FAZ NO
TEMPO LIVRE?
Se a gente comparar o que os entrevistados falaram
com relação à leitura com a forma como ocupam seu tempo livre, notamos uma
pequena discrepância, em relação à falta de tempo para ler. Perguntados, o que
gostam de fazer no seu tempo livre, os entrevistados respondem: assiste
televisão, escuta música ou rádio, usa a Internet, reúne-se com amigos ou
família ou sai com amigos, assiste vídeos ou filmes em casa, usa o WhatsApp,
escreve, usa o Facebook, Twitter ou Instagram, lê jornais, revistas ou
notícias, lê livros em papel ou livros digitais, pratica esportes, passeia em
parques e praças, desenha, pinta, faz artesanato ou trabalhos manuais, vai a
bares, restaurantes ou shows, joga games ou videogames, vai ao cinema, teatro,
concertos. Os livros literários ficaram em 10º lugar.
FORMA DE
ACESSO AO LIVRO
A forma como os livros chegam até a mão dos
leitores é outro aspecto curioso do Retratos da Leitura no Brasil (4ª edição).
43% da população afirmam que compraram livros em lojas físicas e 23% que foram
presenteados. Baixados na internet foram citados apenas por 6% dos
entrevistados. Mas eis que parece que há uma contradição. No quadro
demonstrativo que aponta quem comprou, pelo menos, um livro nos últimos três
meses, 26% que sim e 74% que não compraram. Ou seja, um ¾ da nossa população
não tem acesso à leitura. E vamos verificar há quanto tempo o entrevistado
comprou um livro? 30% dizem, de cara, que nunca compraram. Outros 18% compraram um livro há mais de dois
anos. Um dado fundamental é saber onde as pessoas que leem compram seus livros.
Vamos lá tentar destrinchar. A pesquisa conclui que 44% das pessoas compram em
livrarias, 19% em bandas de revista, 15% em livraria on line. E 8% em sebos ou
lojas de livros usados. Mas apenas 6% compram em Bienais ou Feiras de Livros.
Fraco desempenho para estes grandes eventos literários.
FATORES QUE INFLUENCIAM A COMPRA
Entre os 56% dos brasileiros que leem, o
IPL/Ibope revela, por ordem, os principais fatores que influenciam a compra de
um livro. São eles, tema ou assunto (55%), recomendações de amigos ou
familiares (20%), autor (19%), título do livro (17%), preço (16%),
recomendações de professores (12%), a capa (7%), críticas ou resenhas (4%)
Ilustrações (4%), Publicidade ou anúncio (2%), e editora (3%). Essas tendências,
em números, levaram os analistas do Ibope Inteligência à conclusão de que o
“Tema ou assunto” permanece sendo o fator mais citado pelos respondentes. Além
disso, as recomendações de livros advindas de terceiros segue influenciando a
escolha de um livro para compra: em 2015, os novos itens “Recomendações de
amigos ou familiares” e “Recomendações de professores” foram citados por 20% e
12% dos entrevistados, respectivamente, enquanto, em 2011, o item “Dicas de
outras pessoas” obteve 43% das respostas.
LENDO UM POUCO MAIS
E por ano? Quanto se lê por ano? Entre todos os
entrevistados, o número de livros lido por pessoa, anualmente, sofreu
pouquíssima alteração nos últimos três levantamentos. No ano de 2007, eram 4,7
livros por habitante/ano. Em 2011, este número cai para quatro livros por
habitante/ano. Já em 2015, a leitura cresce para 4,96, sendo 2,1 lidos inteiro.
O Nordeste é a região do Brasil que menos lê, com 3,96. O Norte, como as demais
regiões, estão na frente do ranking.
Uma importante constatação pode ser objeto de um trabalho
de promoção à leitura que deve estar na identificação de quem influencia mais o
outro na busca por livros. A mãe ou responsável do sexo feminino e algum
professor ou professora foram os mais citados na hora de sugerir. “A figura da
mãe é bastante importante na influência da leitura, especialmente quando se
comparada a influencia do pai ou de algum parente”, constata a pesquisa.
VOCÊ ESTÁ LENDO O QUÊ?
E quem lê, está ou estava lendo o quê? A mais atual
pesquisa sobre a leitura no Brasil responde: Bíblia; Esperança; O monge e o
executivo; Amor nos tempos de cólera; Bom dia Espírito Santo; Livro dos sonhos;
Menino brilhante; O símbolo perdido; Nosso lar; Nunca desista dos seus sonhos;
e Fisiologia do exercício. Importante notar que a cada pesquisa, os títulos vão
mudando, embora alguns livros e autores permaneçam por muito tempo no ranking
dos mais lidos. Entre os autores mais lidos, a configuração é o que segue:
Augusto Cury, Chico Xavier, Gabriel Garcia Marquez, Paulo Freire, Benny Hinn,
Ernest W. Maglischo, e Içami Tiba.
59% NÃO LEEM NADA
Vamos aprofundar o que o brasileiro diz que lê, na
comparação entre as pesquisas de 2011 e 2015 (a mais atual). Em 2011, na
pergunta “Você está lendo algum livro atualmente?”, 49% disseram que sim e 51%
que não. Em 2015, a leitura infelizmente caiu. De um lado, 59% dizem que não leem
e 41% que sim (8% a menos do que em 2011). E qual o último livro lido?
Respostas: a Bíblia; Diário de um banana; Casamento Blindado; A Culpa é das
Estrelas; Cinquenta Tons de Cinza; Ágape; Esperança; O Monge e o Executivo;
Ninguém é de ninguém; Cidades de Papel; O Código da Inteligência; Livro de
Culinária; Livro dos Espíritos; A Maldição do Titã; A Menina que Roubava Livros;
Muito mais que cinco minutos; Philia; e A Única Esperança.
58% DA POPULAÇÃO NÃO SABE CITAR AUTORES
Variável, a lista dos autores mais lidos, naquele
momento, configura-se da seguinte forma: Augusto Cury, João Ferreira de
Almeida, Zibia Gasparetto, Padre Marcelo Rossi, Cristiane Cardoso/Cristiane e
Renato Cardoso, Paulo Coelho, Allan Kardec, John Green, Chico Xavier, Ellen G.
White, Machado de Assis, Fábio de Melo, Maurício de Souza, Edir Macedo, e
Kéfera Buchmann. Mas tem aquele livro mais marcante, que impactou de alguma
forma a vida do leitor. Esses títulos mais citados, pela ordem, são Bíblia, A
Culpa é das Estrelas, A Cabana, O Pequeno Príncipe, Cinquenta Tons de Cinza,
Diário de um banana, Turma da Mônica, Violetas na Janela, O Sítio do Pica-pau
Amarelo, Crepúsculo, Ágape, Dom Casmurro, O Alquimista, Harry Potter, Meu pé de
laranja lima, Casamento Blindado, e Vidas Secas. Interessante notar que na
questão dos escritores mais conhecidos, 37% não citam nenhum autor e 21% não
sabe/não respondeu. Fico à vontade para somar 37 com 21 e concluir que 58% da
população não sabe sequer o nome de um autor famoso.
Os livros digitais ainda são muito pouco procurados |
INTERNET & E BOOK & LIVRO DIGITAL
O levantamento específico sobre a leitura em
meio digital tenta perceber agora a relação das atividades em geral que realiza
na Internet. As respostas: trocar mensagens no WhatsApp ou no Snapchat; enviar
e receber e-mails; acessar ou participar de redes sociais; blogs ou fóruns;
escutar música; assistir vídeo; filmes ou TV online; trabalhar ou buscar
informações sobre o trabalho ou profissão; jogar; e fazer compras.
No universo de leitores, a indagação sobre quais
são as atividades relacionadas à leitura que realiza na Internet são fatiados
entre uma gama de plataformas bibliográficas que, dentro da pesquisa das duas
últimas pesquisas, um terço dos brasileiros (33%) afirma categoricamente que nunca
usaram um computador. Em 2011, 54% afirmaram, espontaneamente, não acessar
Internet. Já em 2015, são estes 33% dos entrevistados que disseram nunca terem
usado a Internet. Isso é mais gente conectada. E o quê você faz na internet? Um monte de coisas: trocar mensagens no
WhatsApp ou no Snapchat, enviar e receber e-mails, acessar ou participar de
redes sociais, blogs ou fóruns, escutar música, assistir vídeo, filmes ou TV
online, trabalhar ou buscar informações sobre o trabalho ou profissão, jogar, e
fazer compras, por último.
E por falar em Internet, você já ouviu falar em
livros digitais? Em 2015 a resposta (52% nunca ouviram falar) foi mais
animadora do que em 2011, quando 45% responderam que não. Atualmente, 41% já
ouviram falar, mas só 26% afirmam já ter lido. Para quem já leu um livro
digital, a pesquisa verifica os seguintes dispositivos como os mais usados: celular
ou smartphone (56%), computador (49%), tablet ou Ipad (18%); leitores digitais,
como Kindle, Kobo e Lev (4%). Chama a atenção o quanto os celulares,
ou smartphones, despontam nesse cenário como principais dispositivos utilizados
para a leitura digital e a baixa menção aos aparelhos específicos para esse
tipo de leitura (os leitores digitais).
O pagamento pelo download de conteúdos é feito por
apenas 15% dos entrevistados e outros 88% baixam gratuitamente na internet. E
quais os títulos digitais mais lidos? Livros de literatura, como contos,
romances ou poesias; livros técnicos, para formação profissional; livros
escolares ou didáticos, ou seja, livros utilizados nas matérias do seu curso;
religiosos/ Bíblia; autoajuda; e suspense/terror.
ESCASSEZ DE BIBLIOTECAS E LIVROS
A parte das bibliotecas e dos sonhados pontos de
leitura merecem um capítulo à parte, uma vez que são alavancadores de
participação no universo literário, enquanto os pontos de leitura estimulam a
ler, escrever, ter senso crítico e autonomia social. Aguardem.
A 4ª edição (divulgada em 2016) da série de
pesquisas promovidas pelo Instituto Pró-Livro, através do Ibope Inteligência,
contou com o apoio da Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares
(Abrelivros), a Câmara Brasileira de Livros (CBL) e o Sindicato Nacional dos
Editores de Livros (SNEL). O principal objetivo do levantamento é o fomento à
leitura e a difusão e acesso ao livro. A missão, transformar o Brasil em um
país de leitores.
Metodologia
Técnica da Pesquisa: Quantitativa.
Abrangência geográfica: Nacional.
Público alvo: População brasileira residente com 5
anos e mais, alfabetizada ou não.
Amostra: 5012 entrevistas.
Instrumento de coleta de dados: Entrevistas
pessoais face a face domiciliares, com utilização de questionário elaborado de
acordo com os objetivos da pesquisa.
Período de campo: 23 de novembro
a 14 de dezembro de 2015.
Validade: de 2016 até a próxima pesquisa Retratos da Leitura no Brasil
Validade: de 2016 até a próxima pesquisa Retratos da Leitura no Brasil
* Cristiano Jerônimo é poeta e jornalista.
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