Pulou embalado surfando no ônibus lotado
Seguiu
correndo pela calma da beira do mar
Um tubarão
que tinha pernas correndo atrás
No calçadão
da avenida para pegá-lo por detrás
Um caboclo
de lança flutuava pólvora no cravo
Um maracatu
rural descia pela ladeira e
Mergulhava
embalado no canal escuro da cidade
Procurando
a memória pela própria identidade.
São os
meninos “sem futuro” que vivem invisíveis
Que, desconhecendo
da vida os desníveis, desce
Quando muito,
a sua falta de indignação cresce
O portal
das suas saídas é maltratado e apodrece
De cada um
partirá novo rumo e o lado da escada
Subir os
degraus pela parte de trás não é prudente
O Estado
tem o dever de pagar para toda essa gente
De fazer
com que o nosso povo ande ali para frente
E que a turbulenta
correnteza mude sempre o fluxo
Na tocaia
de voltar para casa quando a maré baixar
Catando
mariscos, caranguejos, chiés na beira mangue
O sertão com
olhar quente de longe e do bigode seu fio.
Leva para
a cidade tua coragem, o superar desafios
Volta para
a roça que plantou e vê tudo perdido
No outro
ano a safra será boa e trará fartura
Só que passar
dez anos de seca ninguém atura
Entra ano
e saio ano, e urbano o povo acredita
Foi embora
para um grande centro metropolitano
Depois foi
obrigado a se arrumar para voltar
Porque não
estava bom nem aqui nem estava lá
Pula
embalado no ônibus frio e lotado, sacola ao lado
Lembra da
criança feliz que era, vai despreocupado
No que habita
o âmago de cada um de nós
Precisamos
ter mais voz; o processo é feroz
Ou muda para
sempre ou não muda nunca mais
Os iguanas
levantaram o pescoço e disseram sim
Foi um
aceno de amor para você e para mim
Foi o início
daquilo que nunca terá um fim
Perpetua-se
para que façamos tudo novamente.
Cristiano Jerônimo
- 13052022
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