quinta-feira, 26 de junho de 2025

O meu canto é o Sertão


Eu sou real o tempo todo. Menos quando penso com palavras.

 

Eu faço séries de farsas e a verdade vem no final do episódio.

 

Com os roedores do boqueirão, aprendi a correr da pólvora.

 

Como o talho da folha do jerimum, tenho um vazio do tamanho da própria abóbora dentro de mim.

 

E quando chove, algo mais do que água cai do céu no sertão.

 

Com as lagartixas, descobri que o rabo cresce de novo. Diferente dos cães e dos gatos.

 

A casa de farinha é a igreja do trabalho em equipe.

 

O engenho e a cor, na dor, não se misturam. Um é sempre doce e o negro ainda amarga.

 

Quilombolas e indígenas me preencheram muito mais do que as casas-grandes.

 

Roubar cera de abelhas é mais legal por elas reporem todos os dias.

 

A mãe da lua era para ter sido minha melhor conselheira, mas falaram muito mal dela pra mim.

 

Com os “doidos” do terreiro de casa tive meus maiores momentos de lucidez. Era pura inocência.

 

Quando pequeno, eu criava latas alimentadas por terra.

 

A paciência que eu tive foi esperar o riacho encher novamente. Até hoje eu aguardo.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 26.06.2025)

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