Por aqui, na minha casa, atrás das próprias
grades, cadeados e correntes... Sem sequer poder pular o muro por causa de uma cerca
elétrica imponente e intimidadora. Duas câmeras trazem de fora, para a telona,
tudo o que se passa na rua, para dentro do celular. E gravo coisas muitas vezes
importantes, como ocorrências policiais, nas quais as imagens são fundamentais
na investigação judiciária na elucidação de crimes. De qualquer forma, nada evita o medo e a sensação de insegurança, que além de preocupante, tem-se que a violência já
bateu na porta de pelo menos uma pessoa que cada um de nós conhece. Para mim,
de acordo com uma observação dos fenômenos sociais, o aumento anual, década a
década, só fez subir. A população também cresceu e a desigualdade social
permaneceu com a falta de uma política econômica de transferência de renda e
geração de oportunidades. Sugiro que entre no google e pesquise as estatísticas
na área de ocorrências. Essa “bela” fissura social começou a se aprofundar na
segunda metade da década de 1980.
Eu me lembro muito bem quando eu e meus
amigos andávamos de bicicleta pelo bairro da Cidade Universitária. Entrávamos e
saíamos dos estacionamentos dos prédios, raro era ver uma guarita, uma sombrinha,
apenas. E lembro mais, porque fui um dos atingidos, quando em 1986 houve um
boom de colocação de grades nos conjuntos, edifícios, prédios. E era, e é, o
mesmo tipo de grade. Agora não podíamos mais entrar nos prédios, usar suas
rampas. E neste mesmo ano bombaram os primeiros vídeo games. Confesso que olhei
com desdém para o Atari, o MSX, e disse: - “Meu lugar é na na rua brincando”. Na
rua e na escola. Mesmo exposto aos muitos riscos que se apresentam numa idade
ainda pueril, do alto do falso poder dos nossos 15 anos, quando adolescente
pode tudo e quero ser adulto. E não foi lá nem cá que o aperto espremeu. Foi
aqui, dentro de mim. Persistindo por uma eternidade, a oportunidade de tentar ser
sempre uma pessoa melhor. Muitos anos depois.
Cristiano Jerônimo, 19.12.2017.
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