segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Juro que houve café


Nas batidas deste espaço,

Na hora da área de serviço.

Hora do computador. Preguiça.

E muita garra pra tocar a vida...

Nos relógios. Nas empresas.

Todos na hora do serviço...

E você me perguntando.

- O que é que eu tenho a ver

        com isso?

Nos romances. Nos amores.

Na possibilidade de sermos.

Maior do que nós mesmos,

Com todas as nossas dores...

Uma água, incensos e cigarros.

Nem sei se tudo isso é tão caro;

Lugares e tempos insuficientes

Para decisões tão diferentes...

Nem quis as cervejas no balde;

Pedi outra água, outro incenso.

Tentei a vida como ela é,

Mas a única certeza,

Eu juro, é que houve café...

  

(Cristiano Jerônimo – 10.11.2025)

 

sábado, 8 de novembro de 2025

Garota triste



Mas ainda deu pra ver a lua laranja subindo ao céu

Deu para ficar agitada na ilusão daquele mero papel

A euforia escondia o tédio da menina fria e as ilusões

Ressacas calculadas de uma moça mimada dormidas.

Tudo o que Cíntia não queria era mexer no coração

Sua pulsão de morte flertava com a sorte que se tinha

Agora sabia que, depois de livro, viraria roteiro e filme

De cinema eloquente, pela autenticidade com a qual ria.

E já não sabia da importância e da cor que nela havia

Ela gozava de alegria ilusória quando o ziplock se abria

Nos copos dos bares onde a noite gritava e se esvaía

Para depois sentar nos sofás das salas de psiquiatria

Onde aprendia que, antes das fugas, algo lhe prendia

O problema não era a droga, mas aquilo o que sentia

Dos seus 25 anos, já havia vivido mais que cinquenta

Os dias se arrastavam e só passavam lá ao fim do dia

Com a dose de qualquer coisa com sua louca rebeldia;

Ela agora anda de mãos dadas e feliz consigo mesma

Transformando toda sua angústia em refinada poesia

Dando passos na medida em que seu mundo aguenta

Vivendo de uma vez, dia a cada dia, ela se reinventa

Ontem mesmo, à noite, eu a vi e até sorrir, ela sorria.

 

 (Cristiano Jerônimo – 07.11.2025)

domingo, 2 de novembro de 2025

Beijá-la em paz

Intérpretre da Imperatriz Maria Lelpoldina, esposa de D. Pedro I, pricipe regente

Eu sempre insisto em beijá-la gelada

No passo calçado e de cor laranjada

Como um banco estivesse corroendo

Poucas pessoas podem ser limonada.

 

Ser refrigerante. Gelar no peito e tal

Preciso mesmo é comemorar o mais

Amenizar o menos, o controle social

Um estado de alerta e uma tal de paz.

 

Canhões varando o dia sem progresso

Madrugadas revividas em complexos

Vítimas da falta ou do excesso do mal

Mortes comemoradas como o sucesso.

 

Eu sempre insistia em sentar na água

Molhar o meu cabelo e depois dormir

A rede batizada com o cheiro do vento

Do mar oceânico a jangada já ia partir.

 

A crença de Thomas More em Utopia

“Dos magistrados, da arte e de ofícios”

Quase nunca sonhamos com os ideais

Cada vez menos nos mobilizamos a “fins”.

 

Não sou chegado aos expertos; só longe

Em pegar o teu sexo que lambe e lambe

Hora em que qualquer sino possa tocar

Se um dia acontecer de beijá-la em paz.

 

 (Cristiano Jerônimo – 02.11.2025 – Recife, PE)

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Locomotivas


REVISADA - 01.11.2025

Não é coisa de cabeça

e parece que será

Mesmo assim,

eu te espero

e os metais

vão embalar

os corações.

 

Tua calça baixa

“black to black”

o teu lápis preto

de escrever

tuas histórias

tão bravas

tão tenras

de cinemas.

 

Eu lembro de ti black

eu lembro a rebeldia

eu lembro mesmo dela

eu lembro dela black

eu lembro dela blues

pela cidade e companhia.

 

Cápsulas de tempos

anfetamínicos

na flor da idade

papoulas da índia

da terra do fogo

no meio da cidade

entre trens urbanos.

 

Animam-nos

as locomotivas

as rotas dos trilhos

no meio da mata

e um cata-vento

que ajuda a regar

a prover nossa vida

Para não decolagem

Pra dentro de nós

Com as outras coisas

que permitimos

que entrem,

até mesmo

sem querer

se merecermos

pagar pra ver

se acabar.

 

(cristiano jerônimo – 27102025)

Dez mil dias

Poema a quatro mãos, com Eva Pirro

Vou me lembrando agora
Dos dias que eu já vivi
Mais de dez mil anos indo embora
Por isso, é natural que eu viva assim.


Sonhei demais e nem percebi
Que esse tempo passa
E a gente nem nota
Mas não, eu não quero
Viver me iludindo.


Enfrento meu medo
Pra vida ir seguindo

E tudo que tenho a fazer
É não deixar de viver.


Quando abrir o caminho, eu vou

Se não abrir, eu abro

Entro onde não caibo

E sou o que sou.

 

Mutatis mutantis

(aqui entra a parte de Eva).

EM CONSTRUÇÃO...

Laços de fita



Foi quando terminastes só

Que iniciastes outro rumo

Tantos graves acordes de dó

Com muros feitos sem prumo.

 

A tua letra ainda soa em mim

E a expressão que me afugenta

Leva-me pra longe, para Aurora

Aquela rua ainda era a tua casa

Quando eu vivia o dia de Angola.

 

Não vou dizer que meus 50 e pouco

Passaram velozes e sem desenganos

A madrugada é assim, gente voltando

O tempo dizendo que não vai demorar.

 

A juventude e a jovialidade estão em mim

Só assim não pareço ficar velho e esqueço

De tudo aquilo que para mim não convém

Nem teus laços de fita deixaram de ter fim

Nem os trilhos pararam de levar os trens.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 28.10.2025)

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Do que me falta



Mais puros do que uma igreja vazia

Tão duros tanto quanto os patrões

Ingênuos como quem tem coragem

Complexo como se plantar corações.

 

Mais belo que a mais singela utopia

O batuque contagiante do barracão

Lugar onde não existe a melancolia

Pois é vasta a medida da imensidão.

 

Poema que dizem sem pé ou cabeça

É importante que nunca se esqueça

Segredo do tempo é o céu ao avesso.

 

Gostaria de parir poemas de cobre

Porque, por mais que a vida, sobre

Uma parte robusta é o que me falta.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 20.10.2025)

 

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Corretamente político

 


Cristiano Jerônimo Valeriano

Jornalista, professor e acadêmico


Bicho, sinceramente, eu estou dando uma sofrida ainda nestas questões de falar politicamente correto e tal, muito essencial. Havia toda uma ideologia bruta contra comportamentos “inadequados” à época. Nos 2000, eu e outros companheiros repórteres, editores, fotógrafos, publicitários partejávamos nos imaginários, os tipos de associação da ilusória Confraria dos Machões. E olhe que eu nunca tive preconceitos contra gays ou outras expressões de gênero, acho que atraem felicidade, amor. Das lavadeiras que eu vi, a máquina de lavar comeu a ôia. As que conheço são todas amigas e reclamam da máquina de lavar. Eu lavo sozinho.

Não, gente, eu também não vou escrever "todes" nem a pau nem a cacete. A favela está sendo vendida como "comunidade", como ilusão. Vem a dificuldade que há por causa da pirâmide, que por mais que a gente ande, nunca chega lá. É infinito desejar. Com FHC, caloteiro passou a ser chamado de inadimplente; criminosos viraram suspeitos e por aí vai. Rapaz, o legalismo brasileiro tem que ser equalizado de uma maneira flexível com a quantidade de leis que não estão sendo cumpridas. O narcoestado, a internacionalidade, as práticas criminais que corrompem um pedaço bom  dos nossos juvens, a maioria negra e pobre. Cada crime deixa o seu DNA. Cada lapada deixou sua marca.

O mais confuso... Cheguei no formulário online da internet e, para fins de concurso público, eu preenchi meu nome e os documentos. Mas tinha uma espaço com  muitas alternativas para optar pelo minha orientação sexual, mas nenhuma etapa me oferecia a opção adequada: mulher ou homem. Li o campo da inscrição. tudinho. Ao final, eu disse: - tô fodido. Não consigo saber qual a opção do meu sexo, sei lá. Tenho que me escrever logo.

    Mas eu pedi a Deus uma saída, Ele atendeu. Lá embaixo, entre as opções de pessoas com gêneros diferentes, haviam almas humanas e na pergunta sexo, ele marcou. Marquei até sem querer. Mas me bateu uma paranóia depois. Fiquei com aquilo na cabeça à noite. Lembrei antes, nos cantos, que seriam três alternativas: 1) Masculino; 2) Feminino; 3) Outro. Justamente o Outro que eu escrevi na lista do Enem. É um caralho. Tô surtando Kráio, aqui na favela é assim! Marquei na outra prova, o “Outro” daqui. Essa coisa de “...foi o Outro foi...”, o que  me sobrou da inscrição do vestibular. Esse foi o meu sexo escolar mais corretamente político. Vi as árvores do bosque encantadas e brilhantes, cores.

04.10.2025 

 

domingo, 12 de outubro de 2025

Ela, o mistério...


Aquele pensamento de possível clarão

Levava-nos às nuvens coloridas da água

Ao sangue vermelho dos nossos corações

Perfeita imersão no íntimo da nossa alma.

Cobiça dos homens, com violência, 

Extorsões e sequestros pela corrupção.

 

De dois paradigmas, de quatro argumentos...

Moléculas do bem atacaram com as vibrações

A vida pode ser interpretada, não vista como tal; 

a morte

no final das contas, sobressai-se sobre o mal,

como uma lenda ancestral.


Lacunas trabalhadas em talhos de nossos tempos

Aquelas dificuldades às quais morreros e sorrimos

Querendo ficar num porto, sem aportar onde for.

 

Viagem de primeiro encontro e fora dos ventos e das tábuas

Olhando as meninas e botando notas dissonantes para seguir

Tudo o que eu queria era ficar mesmo por aqui. Parar e partir.


Cristiano Jerônimo  121025

(Várzea do Capibaribe)

sábado, 11 de outubro de 2025

Mão que suja



A A.s

O gosto amargo de egoísmo e ingratidão

Não tem como não atingir bocas sensíveis

Não tem como fazer o bem, seja em vão...

Observar sentimentos assim tão terríveis.

 

Ultrapassaram a barreira entre a doença

E a maldade, a crueldade do mundo cão

Eu jurei que éramos todos seres do bem

Mas, na hora H, ninguém. Fui pro porão.

 

Nunca viu pedras de ketchup congelado

Doutor Fausto fez pacto com o demônio

Desde então, não mandou mais o recado

Ela é dos males esse mesmo heterônomo.

 

Uma síncope de morder e assoprar o nada

Atingindo o tudo onde jamais se enquadra

Perturbando a própria mente que se acaba.

 

Quando ninguém é obrigado a ser monge

Uma mão vai e se aproxima; a outra foge

Uma mão lava e sempre a outra te enodoa.

 

 (Cristiano Jerônimo – 11.10.2025)

sábado, 4 de outubro de 2025

Este bilhetinho...



    Para flutuar e aparecer na tua janela, entre o vidro e o mar. Voar e morar no ar e aterrissar, fazendo das nossas mentes o prazer das almas dos nossos corpos. Eu não precisaria de elevador. A minha terra é plana até certo ponto, precisamente até onde eu preciso andar. Eu até já pulei do trem. Era ali que eu queria descer, mas no rio o barco me levou a sua região, no mar o tempo estava calmo temporariamente e os nossos corpos não estavam frios o bastante para não sentir calor. A temperatura éramos nós que regulávamos. O tchi das garrafas d’água sobre nossas cabeças eram degustadas das melhores fontes minerais.

    Para sobrevoar tua vida, não seria invasão se eu tivesse a capacidade de amar sem limitar; também se pudéssemos melhorar mais e mais a cada dia. A harmonia não precisaria significar que todos os dias tudo seria tudo feliz. Era só enfrentar o outro tempo e perceber um amanhecer diferente, sempre, ininterruptas vezes. Quantas necessárias. “Mas tudo é tão difícil. Eu quero é mais fácil...”, canta Marina, para encerrar este bilhetinho.


(Cristiano Jerônimo - 02.10.2025)

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

O azul do infinito


O escuro azul, tão bonito,

da abóbada estrelada

contendo em si sóis incontáveis

pulsa calado e vivo

em seu mistério eterno.

 

De uma indecifrável

solidão intergaláctica

e no amedrontador

da mais exata geometria

na qual, estrelas, explosões

e planetas no absurdo mapa.

Sugerem aos olhos

dos homens curiosos

um vazio maior

que o mais vazio da alma.

 

E por milênios incontáveis

de incontáveis eras

na inimaginável constância

da expansão eterna

os fracos de espírito,

diante do infinito,

implodem aturdidos

e se resumem à terra.

 

 

(Cristiano Jerônimo/Lula Côrtes – Verão de 1994)

domingo, 28 de setembro de 2025

Ne quod quidem feles sepelit

 


É preciso dizer algo mais que compense, muito, tudo isso. A vida está perdida e é sério. Porque o mundo definha para nós. Não é só para se esconder em metáforas, posts, sorrisos de likes, #tbt, tais. Pois, não se deve acreditar em quem está sempre muito feliz. Muito menos em quem vive triste, ou que chore sem razão. Não. Vale mais compreender dois humores no mesmo caminho porque, às vezes, um polo da balança pesa mais que o outro. Mas há uma necessidade de, quase sempre, ter a obrigação de ser feliz pelo meio da rua. Podermos ter um sóbrio e sério arremate. E sem histerismo.

Quase sempre eu rumino. Vejo pequenos burgueses arrogantes sem sequer ter algum acúmulo de capital. Só fetiche consumista e um carro (objeto de estudos atuais e ainda inconclusivos sobre o poder do automóvel ante o imaginário social. Afora todos os outros produtos e serviços no âmbito de valor subjetivo capitalista que estão sempre lançando para dar sentido a tantas vidas avizinhadas.

            E mais indagações: Quem inventou esses amontoados de ferro obsoleto, que a maresia devora em poucos dias? Quem foi que invadiu a praia virgem e devastou as nossas florestas? Fez faltar ar, O, H20, fotossíntese... Não acredite em quem é sempre bom, pessoa boazinha e solícita. Ou mesmo egoísta; que se nega a dar a mão. Tem um pessoal que é ouro 18. Mas tem gente que não vale o que come. Ne quod quidem feles sepelit.

 

 (Cristiano Jerônimo – 27.09.2025 – Recife/PE)

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Sais de sinos



Os sinos badalaram na ilha

Os meninos como eu

começaram a cantar

As pedras deitaram no som

As baleias e as sereias

não quiseram ficar

Em terra, as corujas

escureceram os céus

e a areia seca da praia

guardou as pessoas de lá

Os sinos de sais na beira mar

eram os sinais de mágoa a se afogar

O tempo sempre inventava o perdão

O coração matava o ódio com amor

A dor não alimentava a vingança

Nada contaminava nossas crianças

Que, adultas, iriam curar a sua dor.

 

(Cristiano Jerônimo – 24.092025)

Aguardente de rum



Dos anjos mórbidos, dos querubins e dos aléns

Dos fantasmas que habitavam os velhos trens

Eu me desiludi e busquei a quebra dos trilhos

Eu vi a morte vestida de vermelhos espartilhos

Senti a espada da iniquidade chamando pra dançar

Com cadáveres falidos numa procissão de mortos

Com seu fúnebre navio ancorado em outros portos

Nadando nas negras escrituras dos piratas medievais

Eles não ocupavam os cemitérios contidos no planeta

Não deixavam rastros nem depois de sangrarem a sós

Porque as embarcações sombrias navegavam à noite

E se camuflavam de aguardente de rum durante o dia.

 


(Cristiano Jerônimo) – 24.09.2025

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Tudo o que vier


A dama escorregadia

pensa na noite e na alegria

sem ter o escuro nem o dia

Some em cavernas

de casernas

perdida no meio da bússola

fria.

 

Mulher de olhos atentos

Pensa no tempo que se perdeu

Relógios não voltam o sentido

Horário, tempo e dinheiro

Não colam coração partido

Nem resolvem a solidão.

 

Ponteiros não esperam

Vento só volta em furacão

Quando querer é quimera,

O resto é tudo pura ilusão

Não se constrói uma casa

Sem levantar corações.

 

Neste emaranhado

Eu não entro nem com o pé

Na idade, tão seguro

Eu precisava ver qual é

Para saber que no escuro

Esconde-se um futuro

Com o que a gente não quer.

 

 

Cristiano JV – 08.09.2025


domingo, 7 de setembro de 2025

Estações & Vidas



As lágrimas de agosto são pingos doces

Trazem o céu azul e a estação das flores

Colibris coloridos encantam na estação

Preconizando a seca quente dos sertões

São as estações ciclotímicas do universo

Do meu peito, francamente, de menino

Uma mulher ninja esconde a natureza

Junto com um lobo que bebe na lagoa

Se banha no riacho dos olhos d’águas.

 

Toda estrada já viu alguém passar vivo

Elas também foram testemunhas do fim

O arco-íris surge no casamento da raposa

As folhas que caem no outono são assim

Uma fotossíntese  pede socorro no jardim

Tudo se reconstrói se houver consciência

Um copo de vinho não é um copo de uva

Gato caça meio de arrumar sobrevivência

Os sorrisos de agosto são mais molhados

Nunca mais, por favor, se sinta arrependida

Só o que nos falta é o que não foi vivenciado.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 07.09.2025)

Juro que houve café

Nas batidas deste espaço, Na hora da área de serviço. Hora do computador. Preguiça. E muita garra pra tocar a vida... Nos relógios. ...