quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Lendo ao redor


Duas oportunidades, no mínimo, são sempre as possibilidades iniciais. Os nossos primeiros impulsos são sempre mais traiçoeiros e, às vezes, fatais. O senhor catador de mangas havia ido a outro pé mais longe. De um outro, Alexandre lhe chamou em vão. Até que gritou: - Ô meu senhor!!!, mostrando-lhe uma manga espada madura que acabara de cair da árvore da sombra em que estava. De longe, ele fez que não ouviu, até que se virou e ficou estático, olhando fitado de longe para a mão de Alex, que estava com a manga levantada na mão. O homem baixou a cabeça e continuou a procurar mangas em vão. Seria diferente, se ele tivesse trabalhando com a ausência de problemas, um dos estilos de vida mais afinados com as leis universais. Ele acabara de colocar a distância entre um chão sem sementes e uma terra adubada como empecilho para ganhar mais um tempo.

Mas pensamos que, apenas, pelo fato de já ter passado naquela mangueira, naquela distância, não valeria a “pena” ele voltar, mesmo que fosse para garantir mais um fruto maduro em suas mãos, atividade que exercia diariamente. Preferia olhar para baixo, e mais perto, como se o mundo fosse tão pequeno e escasso. Era difícil entender um catador de mangas que todos os dias estava no parque na hora da caminhada matinal. Era uma questão de visão e Dom Carlito não se julgava capaz de arbitrar a vida alheia. Apenas alguns sutis comentários, uma vez que, antes de deixar o Parque dos Eucaliptos, colocou a manga entre os troncos e viu o senhor magro e baixo de olho no local onde a fruta foi deixada, como opção. Estranho um homem querer tanto ajudar outro homem, não? Não. Não há nada de estranho nisso.

A questão também não é saber muito. É falar de mais da conta, cujo limite é de acordo com o grau de sigilo que o seu círculo social exige. Quanto mais você sabe, mais deveria ficar calado. Liberdade de expressão é bem diferente de liberdade de imprensa, não? - A censura é um mecanismo eterno de proteger o homem contra ele mesmo!, bradou Alfredo, nos ouvidos de Fata Morgana (a menina da lancha, pequena poderosa da nova riqueza efêmera). No que entrava saía, no que saía entrava. Fata tava nem aí. Nem aqui também. Ninguém se atreveu a chamá-la de dissimulada ou coisa parecida. O máximo que aconteceu, parece também, foi um conhecido próximo que passou a suspeitar de que ela era fascista sem nunca ter lido ou, sequer, prestado atenção em Benito Mussolini. Tudo isso era muito nebuloso em relação a esta coisa de comportamento, enquanto há pouco tempo atribuíram aos comunistas a responsabilidade pela autofagia das sociedades. Back in URSS, canta os Beatles.

O grande desafio do ser é ser humano, já faz milênios. E o ser criou o dilema de enfrentar a dificuldade de manter o poder, mais do que conquistá-lo, como analisou Maquiavel há séculos. Uma coisa efêmera por natureza – com início, meio e fim. Já o chinês Sun Tsu permanece imutável e atual como os provérbios chineses. “Nunca acues teu inimigo ao ponto em que ele se veja sem saída alguma, porque ele se dotará de todo o instinto de sobrevivência para não sucumbir e derrota-lo”. Já aquele que vai para o campo de batalha, sabendo que pode cair, terá de se explicar melhor perante o Juiz Eterno do Tempo.

“É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”. Geraldo, essa é lei de causa e efeito, tanto na física quântica quanto na atmosférica e na espiritualidade. Barbara Ann Brennan, ex-Nasa, explica muito bem os campos áuricos mais sutis do corpos humano em Mãos de Luz.  – Para chorar, eu canto blues... – Sapecou a adolescente metida a precoce que sonhava em ser bailarina e instrumentista de saxofone. – Um sax baixo dourado – arriscava nos dedinhos. O Júlio César suava as mãos em distonia. Pedro sorria sempre um pouco a prestação. Leonardo Judah só sorria como um leão. E a vida assim seguia. Calmaria e furacão, Caetano entenderia. O rapaz estranho pediria calma.

O homem da esquina sonhava acordado e, assim, não dormia. Pensava que era coruja, mas não observava entre as paredes da casa, em seu peito, que o seu mundo enganara a si mesmo. Coitado! – Quem tem pena de coitado, vira coitadinho!, palestrava o seu nosso avô, a completar: “quem tem o mel, dá o mel. Quem tem o fel, dá o fel. Quem nada tem, nada dá”. Era assim que ele entendia; era assim que explicava para quem tivesse ouvidos. – Mulher casada, meu filho, é como a beira de um precipício – ensinava. Tecia sabedorias sobre ética, caráter e moral: - Um homem de vergonha tem medo, meu filho! – tachava. Três décadas decantadas depois é que ele foi entender o desafio que é nem estar quente nem frio e como a sombra ajuda em todo dia ensolarado.



(Cristiano Jerônimo)

No Brasil

  A palavra que nos deram foi silenciosa O vento soprou na saia do pensamento A lua da noite e do dia surgiu e encantou A engrenagem...