Duas oportunidades, no mínimo,
são sempre as possibilidades iniciais. Os nossos primeiros impulsos são sempre
mais traiçoeiros e, às vezes, fatais. O senhor catador de mangas havia ido a
outro pé mais longe. De um outro, Alexandre lhe chamou em vão. Até que gritou: -
Ô meu senhor!!!, mostrando-lhe uma manga espada madura que acabara de cair da
árvore da sombra em que estava. De longe, ele fez que não ouviu, até que se
virou e ficou estático, olhando fitado de longe para a mão de Alex, que estava
com a manga levantada na mão. O homem baixou a cabeça e continuou a procurar
mangas em vão. Seria
diferente, se ele tivesse trabalhando com a ausência de problemas, um dos
estilos de vida mais afinados com as leis universais. Ele acabara de colocar a
distância entre um chão sem sementes e uma terra adubada como empecilho para
ganhar mais um tempo.
Mas pensamos que, apenas, pelo
fato de já ter passado naquela mangueira, naquela distância, não valeria a “pena”
ele voltar, mesmo que fosse para garantir mais um fruto maduro em suas mãos,
atividade que exercia diariamente. Preferia olhar para baixo, e mais perto,
como se o mundo fosse tão pequeno e escasso. Era difícil entender um catador de
mangas que todos os dias estava no parque na hora da caminhada matinal. Era uma
questão de visão e Dom Carlito não se julgava capaz de arbitrar a vida alheia.
Apenas alguns sutis comentários, uma vez que, antes de deixar o Parque dos
Eucaliptos, colocou a manga entre os troncos e viu o senhor magro e baixo de
olho no local onde a fruta foi deixada, como opção. Estranho um homem querer
tanto ajudar outro homem, não? Não. Não há nada de estranho nisso.
A questão também não é saber
muito. É falar de mais da conta, cujo limite é de acordo com o grau de sigilo
que o seu círculo social exige. Quanto mais você sabe, mais deveria ficar
calado. Liberdade de expressão é bem diferente de liberdade de imprensa, não? -
A censura é um mecanismo eterno de proteger o homem contra ele mesmo!, bradou
Alfredo, nos ouvidos de Fata Morgana (a menina da lancha, pequena poderosa da
nova riqueza efêmera). No que entrava saía, no que saía entrava. Fata tava nem
aí. Nem aqui também. Ninguém se atreveu a chamá-la de dissimulada ou coisa
parecida. O máximo que aconteceu, parece também, foi um conhecido próximo que
passou a suspeitar de que ela era fascista sem nunca ter lido ou, sequer,
prestado atenção em Benito Mussolini.
Tudo isso era muito nebuloso em relação a esta coisa de
comportamento, enquanto há pouco tempo atribuíram aos comunistas a responsabilidade
pela autofagia das sociedades. Back in
URSS, canta os Beatles.
O grande desafio do ser é ser
humano, já faz milênios. E o ser criou o dilema de enfrentar a dificuldade de
manter o poder, mais do que conquistá-lo, como analisou Maquiavel há séculos. Uma
coisa efêmera por natureza – com início, meio e fim. Já o chinês Sun Tsu
permanece imutável e atual como os provérbios chineses. “Nunca acues teu
inimigo ao ponto em que ele se veja sem saída alguma, porque ele se dotará de
todo o instinto de sobrevivência para não sucumbir e derrota-lo”. Já aquele que
vai para o campo de batalha, sabendo que pode cair, terá de se explicar melhor
perante o Juiz Eterno do Tempo.
“É a volta do cipó de aroeira no
lombo de quem mandou dar”. Geraldo, essa é lei de causa e efeito, tanto na
física quântica quanto na atmosférica e na espiritualidade. Barbara Ann Brennan,
ex-Nasa, explica muito bem os campos áuricos mais sutis do corpos humano em Mãos de Luz. – Para chorar, eu canto blues... – Sapecou a
adolescente metida a precoce que sonhava em ser bailarina e instrumentista de
saxofone. – Um sax baixo dourado – arriscava nos dedinhos. O Júlio César suava
as mãos em distonia.
Pedro sorria sempre um pouco a prestação. Leonardo Judah só
sorria como um leão. E a vida assim seguia. Calmaria e furacão, Caetano
entenderia. O rapaz estranho pediria calma.
O homem da esquina sonhava
acordado e, assim, não dormia. Pensava que era coruja, mas não observava entre
as paredes da casa, em seu peito, que o seu mundo enganara a si mesmo. Coitado!
– Quem tem pena de coitado, vira coitadinho!, palestrava o seu nosso avô, a
completar: “quem tem o mel, dá o mel. Quem tem o fel, dá o fel. Quem nada tem,
nada dá”. Era assim que ele entendia; era assim que explicava para quem tivesse
ouvidos. – Mulher casada, meu filho, é como a beira de um precipício – ensinava.
Tecia sabedorias sobre ética, caráter e moral: - Um homem de vergonha tem medo,
meu filho! – tachava. Três décadas decantadas depois é que ele foi entender o
desafio que é nem estar quente nem frio e como a sombra ajuda em todo dia
ensolarado.
(Cristiano Jerônimo)