quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Diante do Infinito



TOMVS l

 

Ah! Coco bom à beira mar

Ah! A ciranda feita pra girar

No ritmo da caixa a cantoria

Vestido rodado de dona Lia

Rainha da Praia, reina sozinha

Faz oferendas para Iemanjá.

 

A brincadeira e o brinquedo

Fazem a vida de um brincante

Nenhum carnaval é como antes

Nem quem toma azougue tem medo

Na zona da mata norte tem lanças

Os meninos de toga, as crianças

De geração em geração, o segredo.

 

Gira o samba de coco sertanejo

No Agreste dança o Preto Limão

Eita estado de poesia em fartura

São José do Egito e sua literatura

Eleva-se nas falas da poesia popular

No Arararipe tem o baião de Gonzaga

Uma Veraneio corre longas estradas.

 

TOMVS ll

 

Um joão-de-barro faz uma casa duplex

Esculpe no barro o seu próprio cotidiano

O que se perpetua de ano a ano e anos

Tal uma encomenda que não é via sedex.

 

Nosso irrastreável pensamento humano

É escondido e nem mesmo nós acessamos

Às vezes não estamos no ninho nem no ar

A dança da conquista é de coração e pano.

 

Tudo foi ledo engano, a terra voltou a girar

Giro ao sol, atrai a lua em sua órbita rente

Espirala o vapor gigante da nossa via láctea

Conseguem ver o que está indo e voltando.

 

O Universo se retroalimenta nos buracos negros

A matéria expande a nossa lei da relatividade

No limite do local aonde chega na beira do caos

Tudo que está fora e dentro é cristalina verdade.

 

Tudo é do Pai!

(Cristiano Jerônimo – 30/11/2023)

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Ferida maldita



Aos algozes da mata, às gerações ingratas

 

Nenhum raio lhe atingiu

Só o sabor do vinho tinto

O gás propulsor do vinil

O óleo que cobriu o abril

Seis animais estão extintos

Grudou piche de petróleo

Nas exóticas tartarugas

Que vão e vêm de África

Pelo mesmo trajeto

Pelo mesmo caminho

Eles sabem o que é

Esses loucos sabem

Do que se trata isso?

Nenhum raio lhe atingiu

Os trabalhadores

Ainda são escravos

Assalariados

E o trabalho precário

Atinge o mundo todo

O esperto e o otário

Pegou o Raimundo...

Também pudera

Ele era professor

Ninguém valorizava

Nem o MEC chegava

A um terço do Brasil

Ficamos sem educação

Eternamente índices

Quase sempre alarmantes

Como trombas de elefantes

Como os bichos-pau

Das florestas, das matas

Das atitudes ingratas

Dos garimpeiros sem alma

Do resto dos índios mortos

A ele nenhum raio atingiu

Até que sua toca explodiu

Não restaram nem os ossos

Nem as mães pegaram filhos

Atentaram contra a tua vida

E tu ainda lambes esta ferida

Maldita.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo – 28/11/2023)

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Filhos da dúvida


Filho de cabra é cabrito

Filho de ovelha é borrego

Filho de vaca é bezerro

Filho de Deus é espírito

Filho de homem é ganância

Filho do filho é infância

Filhos são pobres ou ricos

Filho de jegue é jumento

Filho de pato é patinho

Filho de pássaro no ninho

Filho de bacurau agourento

Filho de peba é tatuzinho

Filho de estrada é caminho

Filho de todo o ar é o vento

Filho de rosa é espinho

Filho do sol é sistema

Filho da selva é selvagem

Filho da vida é viagem

Filho da dúvida é teorema.

 

(Cristiano Jerônimo – 27112023)

Algum paradoxo

Só sonha quem tem fé Só chega quando anda Olhar só da varanda Não gasta a sola do pé Ser sempre muito forte Não contar com a sor...