sábado, 11 de dezembro de 2021

De scores e de retorno



Hoje, escuto fake no more

Uma sambista de funk nua

Uma menina deitada na rua

Jogadores olhando scores

As harpas para atrair a lua

Os homens sem os bigodes.

 

Bigode é símbolo de bosta

Eu vi tudo mudar no tempo

Vi a ascensão e vi a queda

A rapidez infinita do vento

Revelação da verdade crua

No desconforto do desalento.

 

Ele fez por onde merecer

Tudo aquilo que aconteceu

Ele até tentou arremeter

Mas o avião parou de voar

O coração sem dar a vida

A imaginação adormecida

E muitos corpos pra contar.

 

Na roça, no mato, vagalumes

Trabalho árduo para cultivar

E colher tudo o que plantou

Os frutos que a terra não dá

De volta; da Lei do Retorno

Do que falsamente era gozo

E nem dava para acreditar

Que um belo dia ensolarado

As máscaras todas iriam cair.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 11122021)

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Narrativas do cotidiano (III)


Homem sóbrio e boa gente

Francisco usava sua mente

Atrás da chave da liberdade,

Preso às rédeas da cidade.

 

Nasceu pobre e quis estudar

Achava que não ia realizar

Aquele sonho que era direito;

Na sala de aula, preconceito.

 

Foi mais chocante no começo

Já que “Narciso acha (tão) feio

O que não é espelho”, pensou:

Quero similitude e ter um meio.

 

Buscou muito as universidades

Não queria ser tal o pai agricultor

Iniciou num emprego de cobrador

Circulava sentado pelas cidades.

 

Passava o troco como um robô

Seria trocado pelo elo eletrônico

Cartões pagariam e receberiam

O problema se tornaria crônico.

 

Foi promovido a ser supervisor

O tempo todo era pressionado

A fazer determinadas coisas

Que atingiam seu próprio lado.

 

Cobrava tudo dos encarregados

Traços de “ter pertencido” àquilo

Os tempos estavam mudados,

Nem sempre dormia tranquilo.

 

De supervisor geral de cobrador

Passou a ser um desempregado

Viu que o poder muda e traz dor

E esse caminho não é facilitado.

 

Aos 70 se aposentou e quebrou

O salário mínimo é muito menor

O cobrador saudava o dinheiro

Que arrecadava para o maior.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo – 08122021 – Taubaté – SP)

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Belo enredo


Onde nascem as águas

que cobrem a terra

necessárias às plantas

às espécies do planeta.

 

Da mata, brotam gotas

mais velozes que o vento

mais precisas que o tempo

da vida, de pessoas coisas.

 

Onde morrem as águas

que saem das cachoeiras

nas aldeias das cidades

que despejam os dejetos.

 

Nossos anjos protetores

têm trabalhado até demais

expressando seus amores

nos levam ao banco da paz.

 

O suco da mata é pura cura

A saracura está no arvoredo

Sem medo, fobia ou loucura

Segue em paz um belo enredo.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 07122021)

Sem olhar detrás



A melhor aprendizagem foi com os LP’s

mudava de escola, de idade, crescia

comprava discos novos no dia a dia

e de forma evolutiva me apresentava

ao lirismo dos poemas musicais

dos ritmos que a vida me trazia

dos instrumentos e da musicalidade

a poesia mais pura do fundo da alma

longe da grande cidade formigueiro

no meio da fumaça invisível do caos

entre os bons que serão os primeiros

e do sofrimento dos que são maus

a pedra jogada que fica e volta logo

com o afago que contempla o fogo

As rodas que moem através do vento

O giro solar que corre a favor do tempo

As estrelas mágicas que vivem a voar

Os vagalumes usando energia lunar

Para extrair da noite o próprio brilho

Se levantar em frente sem olhar detrás.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo – 07122021)

domingo, 5 de dezembro de 2021

A cobra e o passarinho


Cada vez que suprimimos o abstrato

perdemos mais nossa ancestralidade

O ter concreto enxertado nos fatos

Apresenta sua nova modernidade.

 

O sabor e o dissabor nas entrelinhas

De um azul parecido com céu aceso

E escuras nuvens geladas e sozinhas

No real, no espaço livre vive preso.

 

Nem sei como as ciganas sabem dançar

Como elas passeiam no vento do mundo

Levando as verdades que têm pra contar

Desde o mais raso, até o mais profundo.

 

A cobra usa o inseto para atrair o pássaro

Para devorá-lo porque tem que sobreviver

Igrejas cobram dízimos e oferecem salmos

Sendo o mais importante o que a gente crê.

 

O que a gente cria e acredita, a vida é santa

Olhem para os corações destas crianças

Com a revolução, nem mesmo se espantam

São de maracatus e brinquedos suas lanças.

 

Os seres humanos em natura desencantam

Os espíritos vivem e, na verdade, são vocês

No estado mais sutil das religiosas danças

Não dá mais para crer que são apenas três.

 

 

 (Cristiano Jerônimo – 05122021)

Algum paradoxo

Só sonha quem tem fé Só chega quando anda Olhar só da varanda Não gasta a sola do pé Ser sempre muito forte Não contar com a sor...