sábado, 16 de outubro de 2021

O coletor de mel



Mais inocente que um cão de guarda

‘Abestado’, como diz lá no interior,

Que só um doido escorado numa enxada

Fazendo planos olhando para um beija-flor.

 

Mais puro que o inacreditável

Severino de Lalia exala o bem

De um jeito sempre amigável

Sem importar o que ele tem.

 

Mais honesto que um sem crédito

Os rostos são tristes nas janelas

Viúvas da seca, esperando maridos

Lembram de praias nunca vistas antes.

 

Sofrer com dinheiro no bolso é mais tranquilo

Sofrer sem dinheiro no bolso é mais desafiador

Como todos os dias que amanhecem amenos

E que farão agora, no inverno, a diferença.

 

 

(Cristiano Jerônimo – Valeriano – 16.10.2021)




quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Capital da fala


Tem gente que

Quando vê mel

Se lambuza

Se mira o céu

Só tem culpa

Maneira cruel

Do mel ao fel

Nova labuta

Dois desafios

Sem desleixos

Nem prolixas

Inconstâncias

Foram buscadas,

De fato foram

Alcançadas

Com a inteligência

Olhar de indigência

Comendo lagostas

E frutos do mar.

 

Pouco importa

Se eu, logo no fim,

Não enxergo o azul

Sujo a boca, passo mal

Numa fala mal usada

Daquilo que nem sei falar

Os bilhões dessa cabeça

Processam tudo pra refletir

E vem um gravatinha dizer:

- A culpa não é minha.

 

 

 

O barreiro não decanta


Cristalizo o pensamento

Em cima de um jumento

Carregando dois caçoas

Cheios de sentimentos.

 

Desde quando fui levado...

Estava gostando do sertão

Muito chumbo lá trocado

Cem perderam o coração.

 

Eras, futuro passado fui

Sentimentos no alforje

A razão lá no coração

Olhe como as coisas fluem.

 

O barreiro não decanta

O açude não enche mais

O matuto vai e se esvai

O cantador rima e canta.

 

Canta e encanta as noites

Rimas de bêbado boêmio,

Procurando seus devaneios

Num grande e ébrio vilarejo.

 

 (Cristiano Jerônimo – 12102021)




segunda-feira, 11 de outubro de 2021

À toda honra


 

Aquela locomotiva

beirando a estrada

em toda a tentativa

não dava em nada.

 

Como resistência

tal luta de classe

progresso, ciência

mundo de falácias.




Descobrir a verdade

é dificultado por eles

os seus olhos verdes

não pertencem a eles.

 

Aquele avião no alto

foi ouvido no sertão

cruzou todo os céus

e nada de explicação.

 

Um rastro de fumaça

poluía nossas nuvens

na seca; as carcaças

ficaram no seu dilúvio.


Ficaram sequeladas

as crianças do grotão

as mãos estropiadas

num tórrido seco chão.

 

Mas vai trovoar e chuva

os trovões anunciam

os relâmpagos clareiam

os animais entram no cio.


 

E a natureza morta vive

renasce a cada chuva

hiberna a cada verão

seca mais ávida assola

espera-se o tambor encher

não perdemos o bom tom

com a garra dos mouros

fazemos jus à toda honra

nossa carne, o filé e o osso.

 

Aquela locomotiva

beirando a estrada

em toda a tentativa

não levava a nada

mudamos o rumo

o mar muda em segundos

o mar é mesmo outro mundo,

onde podemos navegar.

 


(Cristiano Jerônimo – 11102021)





Algum paradoxo

Só sonha quem tem fé Só chega quando anda Olhar só da varanda Não gasta a sola do pé Ser sempre muito forte Não contar com a sor...