sábado, 27 de fevereiro de 2021

Velhos hábitos

 


Às vezes novas estradas

Lembram velhos caminhos

Antigos hábitos conduzem

E nos retornam ao ninho.

 

[Um poeta nos falou,

Vendo o homem

E o seu caminho:

"o lar do passarinho

é o ar, e não o ninho"]

e aqui estou planando.

 

A repetição dispara

Sentimentos passados

Que nos machucam

E nos empurram

Para os costados.

 

Não é isso que queremos

Para nenhum de nós

Senão transmutarmo-nos

Nas provas desta vida

Quem mexem em feridas.

 

Nem sempre as estradas

São velhas sem o tempo

Secar nossos tormentos

E tocar nossa caminhada.

 

Às vezes novos caminhos

Levam a velhas estradas

Novos hábitos conduzem

A voar e sair de todo ninho.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo – 27022021)


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Viagem à face da terra



Depois da peneira do tempo,

Encontrei poucos amigos aqui

Pobres espíritos e gente de luz

São poucos, mas não importa.

 

Desde as salas de aulas da escola,

Das brincadeiras dos bairros antigos,

Dos amores mais viçosos e ardentes

Agora consigo entender os perigos.

 

Eu acelerei e gerei na alta tensão

E fiz ioga, relaxamento e meditação

Mas, se o que move a vida é a angústia,

Não precisamos de nenhuma presunção.

 

Não conseguimos prever um minuto à frente

E, às vezes, temos a petulância da antecipação.

O medo oculto de receber um falso perdão

De coisas que nós não somos os responsáveis.

 

O passado não atormenta; mas é muito procurado

O futuro não atende telefone e o presente é uma lei

Ninguém na face da terra pode ter a palavra de rei

Nosso medo invisível é um fantasma inanimado...

 

 

 (Cristiano Jerônimo – 24.02.2021 – Recife – PE)


"Nem tudo que parece ser, é. Porque o que realmente é, a gente não consegue ver".

"O essencial é invisível aos olhos".

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Discos na vitrola

 


Reclamava, pois via o olho do marasmo

Remando em sua prancha inconsolável

O escracho, do escárnio e do sarcasmo

Nada poderia ser ao menos tolerável.

 

São só homens sem serem humanos

São tiranos que nos eriçam os pelos

Imagina perder tudo o que ganhamos

Em meio ao caos, algo tipo pesadelos.

 

Não escondamos a responsabilidade

Falamos que íamos mudar o mundo

Que hoje eu não posso mais... não rola

Todo instante troco o disco na vitrola.

 

Até subir na prancha e cortar as ondas

E subir uma serra de cansaço e prazer

Água salobra para dar mais sede oásis

Remando de novo para novo renascer.

 

Os selvagens não foram os ameríndios

Usurpados em tudo e agora esquecidos

Os europeus famintos como forrageiras

A escravidão fora e dentro da porteira.

 

Agora vêm pagar uma dívida social

Na história tantos índios morreram

Procuramos, não vimos movimentos

E as cotas para os donos desta terra.

 

Não é só um poema conteste também

É a sensação de que podemos mudar

Existem estradas no caminho do além

E não é bem aqui o nosso lugar e lar.

 

                                                        (Cristiano Jerônimo – 22022020)


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Os cegos


Eu busco sempre coisas

Que preenchem o vazio

Que é eterno e tem cio

Multiplica como filhos.

 

Coisas enchem e secam

Os sentimentos ecoam

Para eu parar de pensar

Os pensamentos voam.

 

Aquele queijo suíço

Nunca se completa

Tal a história do copo

Meio, cheio ou vazio?

 

Persigo coisas constantes

Destas que nunca findam

Aceleram o passo bastante

Vão protegendo e blindam.

 

O agora e o futuro animam

Independente do que seja,

Tudo o que a gente almeja

Quando os sinos badalam.

 

Nesta era de transmutação

Cegos não veem um palmo

Leem os salmos em braile

Outros enxergam e caem.

 

 

 (Cristiano Jerônimo – 20022021)

Bruxo do Sertão


Alquímico 

 

Da primeira vez

que ouvi

que era bruxo

me espantei...

quanta crueldade

com quem

insistiu no copo,

comeu folhas

de prata e ouro

manipulou

mercúrio

enxofre

e sal

que saiu

em busca

de raízes,

das raízes

para, então,

modernizar

suas ações

e os pensamentos

profanos da aldeia

com porções mágicas

chás milenares

plantas que curam;

mas não sou bruxo

sou da caatinga

do sertão

aquele que cuida

do seu roçado.

 

 Cristiano Jerônimo (22022021)

 


"... Às vezes abrindo as janelas e as portas do meu coração. Descubro em amores antigos, o orvalho escondido no canto dos olhos do rosto do sol do sertão. Às vezes andando sozinho, descubro no meu coração, amores perdidos... florestas de espinhos... e um bruxo que veio do... Sertão!...”. (Lula Côrtes)

Algum paradoxo

Só sonha quem tem fé Só chega quando anda Olhar só da varanda Não gasta a sola do pé Ser sempre muito forte Não contar com a sor...