sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Três tempos


(Nosso livro ATA, Andréa)

 

Quando eram só alcaloides

Sem haver gasolina nem fogo

E, nas tocas do subterrâneo,

Nas vitrines de um bar piano

Te encontrar sorrindo em mim.

 

Agora são mais trocas adultas

Com conversas de crianças

Apaixonadas pela vida

Querendo viver!

No Monte das Tabocas

No Monte Guararapes

Nas Heroínas de Tejucupapo

Na Pedra da Surdina

Nos talhos do Ingá

Tudo esse ‘absurdo’

Vai amar você também.

 

Quando eram só alcaloides

Não gritavam, não ruíam

Não eram tão imperfeitos

Como são as máquinas.

 

Mas o vigor e o jeito de sermos

Permaneceram intactos em nós

O amor, a esperança, a consideração

Coisas incomensuráveis e próprias.

 

O amanhã ficou para depois

Esperamos, ansiosos, o hoje

Que serão os dias aos quais me refiro

Agora antes, no passado,

Já sinto o que é acolher.

Pretérito perfeito.

Presente do futuro,

Do subjuntivo.

Sem tempo, aliás.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo – 191120220 – Recife - PE)

 

 

 

 

 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

As sombras das nuvens


Cristina olhava pela janela do seu quarto a paulatina aglomeração de nuvens, que ensombravam a paisagem enquadrada pela janela aberta. Seus irmãos estavam na roça e eram quase cinco horas da tarde. O volume veloz da água estourou açudes e cercas, levou animais. O terror logo se fez presente, quando o ribombar dos trovões e o reluzir dos relâmpagos entraram em cena, como estouros e pipocos, raios múltiplos na imensidão.

Os olhos de Cristina esbugalhavam-se de medo, mas não conseguiam parar de olhar para a terrível tempestade que já despencava das alturas. Suplicou, com fé. E agiu para enfrentar a chuva de granizo que deitava no chão e no telhado, onde as goteiras enchiam baldes. E cada vez o seu medo se tornava menos infinito.

Passadas algumas horas, a tempestade se foi e o sol brilhou com muita intensidade, enxugando o que tinha vindo de muito, graças a Deus. O ar era o mais puro, parecia ressaltar as cores da natureza encharcada, aguada. Com certeza, todos foram plantar, criar e aproveitar a terra molhada para colher.

Acalmou-se a menina sem atinar que o Astro-Rei nunca deixou de brilhar, acima das tormentas passageiras. A luz necessária é doada diariamente, no mesmo horário, sem nunca ter sofrido um atraso. A lua aparece do mesmo jeito. O universo de Cristina estava lá.

Dona Pérola explicou que nós agimos assim constantemente e muito sem perceber. Diante de problemas e dificuldades, ficamos aterrorizados e às vezes perdemos a esperança. Tudo isso, fruto da nossa fé, que ainda é muito frágil.

Não! Não! Não! Cristina precisa sim ter em mente que, por pior que sejam as tormentas em que nos situemos, o Sol do Amor de Deus jamais deixará de nos sustentar e que, passado o vendaval, podemos sair reluzentes, se mantivermos uma atitude resignada, tal qual a natureza. Que possa ela, então, ter em mente uma certeza: Nunca estaremos desamparados.

 

(Cristiano Jerônimo – 17112019)

Atrações da filosofia

 


Série Andréa Pereira

 

Há muito não me via

Atento ao telefone

Que nada me dizia

Eu sentindo sua falta.

 

Foi tão estranho

como conhecido

o mais valioso

de estar contigo.

 

Esse meu apego

A ânsia de ti

Com teu chamego

Em seus jardins.

 

Sem receio da paixão

Pouca razão e vigília

Do que não se controla

Do que não se vigia.

 

Renova-se

Dos céus

Como estrelas

No chão.

 

Estou dentro de ti

Da mesma forma

Uma linha reta

Apenas nos separa.

 

Físico, geográfico

Estático ou quântico

Mesmo matemático,

Atrações da filosofia.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo – 17112020)

Algum paradoxo

Só sonha quem tem fé Só chega quando anda Olhar só da varanda Não gasta a sola do pé Ser sempre muito forte Não contar com a sor...