Era a mesma estação de quando me mandaram para o
colégio seminterno do Exército. 1985. 11 anos. Em casa, meu irmão me “obrigava”
a ler um tijolo editado de mais de duas mil páginas intitulado A
história do Partido Comunista da URSS, entre tantos outros. Explicava o
que Geraldo Vandré queria dizer nas letras das canções. Foi muito bom. Era o período
do início infindável da nossa redemocratização. Nesta época, a esquerda
brasileira – mesmo dividida – se enrobusteceu na polarização da guerra fria e se preparou para a grande eleição de 1989. Matematicamente,
o mundo se resumia numa fórmula temerária, na época: EUA X URSS, de batalhas
silenciosas, até que a Rainha Elizabeth entrasse em cena.
No dia 9 de novembro de 1989, o muro caiu na
Alemanha. O famoso Muro de Berlin, construído para separar os alemães
ocidentais (capitalistas) dos orientais (comunistas). Rendia meses de capa da
Veja o desmoronamento da outrora potência mundial. Inegável que a esquerda, em
todo o mundo, representou o símbolo da resistência em prol de avanços sociais
mais progressistas e alicerçados. Já no Reino Unido, a Rainha Elizabeth, que já
se aproximara do então presidente da União Soviética, Michael Gorbachev conseguiu
reunir, num jantar muito reservado, os presidentes da URSS e o então presidente
dos EUA, George W. Busch. Um passo atrás para a potência comunista. A
Perestróika (gerada em 1986) estava com cara de monstro.
Foram vencidas décadas de mão forte comunista,
desde a Revolução Russa de 1917. No final da década de 1980, a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) estava esfacelada e ainda teria como
sucessor de Gorbachev, o atrapalhado Bóris Yeltsin. Para, em todo mundo, os
partidos sobreviverem, avançarem nos projetos unificadores dos elementos comunistas
houve toda uma guinada, congressos, enquanto se lutava pela democracia com o
lema de um governo igualitário, e de avanços para a sociedade, sobretudo as
camadas mais necessitadas.
Diante do último suspiro da Albânia, restou a
resistência. Instalou-se a Social Democracia no país e nunca mais, de 1985 pra
cá, percebi que a discussão da implantação de um modelo Marxista, Leninista,
Trotisquista de gestão, de governo esteja tramitando no parlamento nacional para
mudar a Constituição Federal, quando ela diz apenas que somos um país
capitalista. Há pensamentos de modelos de governo mais laicos. Agora, se virou
utopia eu não sei, mas o pessoal está se movimentando cada vez mais.
Enfim, uma pergunta: ainda será possível que a
maioria da nossa população possa governar também a minoria, ou se uma pequena
minoria vai continuar governando a maioria e dominando o maior percentual da
população como se fôssemos, nada além, de um grande problema para eles não
resolverem. Não resolvem. E, dos livros ainda proibidos em 1985, herdei
lembranças e construí sonhos tão sólidos que eu gostaria de não vê-los jogados
fora, como se a esperança pudesse abandonar alguém assim tão fácil.
(Cristiano Jerônimo – 09.06.2016)