sexta-feira, 24 de março de 2023

De gosto e de água


O mar e a lua, e Iemanjá

Eu sou de origem de caboclo
Sete flechas para me salvar
Muito escrevem do belo mar
Meu sertão com a água cara
Não tem ninguém para aguar
Tem chupa-cabra pra sangrar.


Com a alma fechada, Iemanjá
Em engano, eu não sirvo pra ti
Parece que desaprendi a te amar
Tanto, tanto que um dia eu insisti
Aprendi um dia a matar o mal
De raiva, de reza e de perdões

Com os fantasmas escurecidos

Imaginei tudo o que significava

Do gosto, da água e dos amigos.


(Cristiano Jerônimo – 24032023)

Panamá



Falácia, a sua eficácia engana a verdade
Sofisma, você produz todas as intrigas
Mentira, inconsciente nela se proteje
Inocente travestida de uma criança
Vítima do sistema feudal, etc e tal
Talvez tanto tempo despertou um mal
Todo aquele sofrimento  reproduzido
Por ninguém mais, ninguém menos
Do que quem se deixou violar em vão
Procurando responsabilizar os outros
Quando o espelho só apontava para si
Importante assumir e, de repente, sumir
Não saber o que é chegar nem partir
Qual é o próximo destino para o vazio?
A parte mais quente ou o gelo do frio
A sabatina mental que procura rusgas
Isso tudo vindo da sua grande mea culpa
De tudo o que eu não queria, tudo findou
Só o meu sentimento que, enfim, acordou
E os teus equívocos viraram a minha luta
Não há mais tempo para você se enganar
Medo do inexistente parece com loucura;
O amor doente de Isabel no Panamá...


Cristiano Jerônimo Valeriano 23.04.2023

Escravos da limpeza


(SÉRIE “AUGUSTIANA DE GREGÓRIO”)

 

Dinheiro não tem duas fábricas

O que é igual ao seu é o que é meu

O bem acumulado, a labuta suada

Escravizado chamado emergente

Um grande cara e tal, inteligente.

 

Antes fosse um cometa

que encantasse

E fosse embora...

 

Antes fosse apenas

Os mistérios da caipora

Mãe-da-lua e o firmamento

Urutau no pensamento

Inigualável ao fundamento

E instável como o luar...

 

Para dar um sentido

A uma vida perdida

Aos amores doentes

Remédios e curas

Sinceridade máxima

Dê no que der as juras,

Vão querer sempre

O sucesso contínuo de vocês

Seja até mesmo dois ou três.

                                     

Os abutres são do bem

Limpam ossos na rapina

Comem o gado já morto

Todo dia essa é sua sina

Como se fosse sua horta

Como ninguém imagina.

 

Carcará, atenção na estrada

Ataca o vazio com sua espada

Chega na frente do alimento

Toma a sua presa em seu alento

Entre os varões, um sangão frágil

Foi-se na cópula da Abelha Rainha.

 

Uma espécie que evolui e involui...

Que guarda tantos traumas de vidas

Das famílias comendo lagartixas

Os répteis se alimentado de formigas

E na terra as suas transformações

A partir das espécies mais antigas.

 

Deram para o vapor criar a indústria

A combustão da imprensa e o capital

A desigualdade que permeia o planeta

Com fome, todos os cabritos berram

Poucos têm muito e muitos muito mal

O sujeito que por si só não prospera.

 

Não é reclamação de adolescente

Nem poesia de ideia de protesto

Fosse assim eu mesmo me revoltava

Jogava os ideais e os sonhos com dor

Descobrindo as profundas diferenças

Do presente, da vida casual e crenças.

 

O que fizeram dos sonhos e esperanças?

São perguntas proferidas por crianças

São jovens que escolhem ser marginais

Porque, às vezes, não possuem mais

Uma opção sequer para seguir em paz.


No chão da fábrica quer ser encarregado

A competitividade em condições desiguais

Vejo uma fraca resistência e uma sensação

De que nosso país sempre anda para trás.

 

Poderia ser teu filho ou até mesmo você

Estendendo a mão ou ignorando o fato

Sendo agradecido ou sendo ingrato

O trabalhador vê a escravidão escurecer

Um patrão que não acredita em abstrato

Nos anos 2020 não deixa você você ser

Ter que apanhar para ter que esclarecer

O ocorrido e toda a natureza dos fatos

De que queres, mas não tens condições

Pois não honram nem o próprio prato.

 

O ser humano não suporta nem a si mesmo

Jamais dará lugar para alguém adentrar

Sentimos nojo de nós mesmos e perfumes

Baratos escondem a nossa vil arrogância

Sob o pretexto de que foi deus quem criou

O limite entre a decisão e as consequências

Entre o incrível e a colheita tão esperada

O avião com a cabeceira da pista preparada.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 24032023)

segunda-feira, 20 de março de 2023

Brincadeira é o que vem depois

 

Quem perde,

dá mais valor à liberdade

Quem ganha,

tem medo de perder

E se aprisiona no ter

Faz sangretas invasões

Decreta o fim do planeta

aprendem tudo na guerra

Um violão de escopeta

Dedilhado nas explosões

Sempre novas gerações

Pessoas menos bonitas

não precisam ser lindas

nem brincar na berlinda

Quem perde,

dá mais valor à liberdade

Quem ganha,

tem medo de perdê-la

Muitos usam da maldade

Escravidão e crueldade

Justificados pelo lucro

o acúmulo de capital

na mão de muito poucos


É preciso ter coragem

Decisão no tempo certo

O final não tem tanto fim

Bom mesmo é o que vem depois.


(Cristiano Jerônimo - 20032023)



Algum paradoxo

Só sonha quem tem fé Só chega quando anda Olhar só da varanda Não gasta a sola do pé Ser sempre muito forte Não contar com a sor...