Não gosta mais de lembranças
flutuando no cerne da criança
revive uma nostalgia tão áurea
voa no infinito desta via láctea
pelos becos do universo curvo
sobrevoando um lago, imundo
há seres humanos sobre o lixo
passando
o dia inteiro abismal.
[A velha e pura cara do umbral
pós-morte endereço semifixo].
Um grupo de luz desceu do alto
resgatou uma criatura espiritual
como uma estação muito antiga
deu-lhe a chance de pegar o trem
sempre as novas rotas e partidas
é que no umbral não há o que tem.
Enfermeiros da linha frente espiritual
sempre pescam almas do purgatório
mundo em que o inferno não é ilusório
onde não se faz nem o elementar
o que chamam de planeta de sal
sem água, sem rio, sem lago, sem mar.
[A velha e pura cara do umbral
Pós-morte endereço semifixo]
Gestação capenga de um triste final
a seleção das espécies em devastação
mostra que o quente calor da serpente
ardeu no dia em que pisastes na terra
um feixe de luz estonteante, bravura
tentou iluminar o que não era provável
mas era. Pelas cancelas do destino, provas
pelos ninhos do caminho, a vida se renova
uma centelha de nada ilumina a escuridão de mil almas
um conselho prudente faz com se evite outra estrada
dos cataclismos que, todos sabem, não nos levam à nada.
“Orai e Vigiai...”
(Cristiano Jerônimo – Taubaté-PE – 27.03.2023)