sexta-feira, 13 de junho de 2025

A moça refrigerante



Você com essa cara de Fanta

Laranjada em mim!

Você não é mais uma criança

Já pode ser mais assim...

 

Você com essa flor no cabelo

Jogue teus cachos em mim!

Sem dar paz nem desespero

Mergulhe e você vai entender!

 

Você com essa cara de Soda

Limonada em mim!

A água gaseificada,

Para podermos beber no jardim.

 

Você com essa cara de Coca

Vê se molha e me enxugo enfim

Guarda um gole de Coca pra mim!

 

Quando for Guaraná

Vem com esse teu doce

Vira uma abelha

De um mel sem fim.

 

Você com essa flor no cabelo

Jogue teus cachos em mim!

Sem dar paz nem desespero

Mergulhe e você vai entender!

 

 

(Cristiano Jerônimo – 13.06.2025)

quarta-feira, 11 de junho de 2025

No mais


 

Não é o destino

inconteste

inconstante

mutatis

mutantes

a vida

muda

a todo

instante

invariável

prazer

prisão

coração

bomba

irrigando

emoção

quatro

cantos

igrejas

santos

procissão

velas

no escuro

derretem

apagam

escuridão

procura

em vão

não

é

destino.

No mais,

perdão.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 11.06.2025)


Analina


Analina bailarina

era só uma menina

viciada em Ritalina.

Ana linda sem sina;

mergulhando na maré

remando pelos rios

podres, o beberibe,

intocável capibaribe.

 

Analina baila no mangue

entre tantas barcaças

da vida deste rio morto

no Cais da Aurora

e nos Coelhos...

... catamarãs

só mostram

os belos pontos

e os palácios do poder.

 

Já Analina rebola no píer

Segura a corrente

do navio e quer zarpar...

quer atravessar o oceano

dar um salto no engano

e transpor a angústia de pular.

 

Analina tem um cavalo

campolina. Loura crina

que segura esta menina

e lhe coloca a galopar.

Seu galope é certeiro,

cai nos braços do vaqueiro

e vai ao mato aboiar...



(Cristiano Jerônimo – 14.10.1999)

segunda-feira, 9 de junho de 2025

Os pássaros não choram


De tanto andar à toa nesta estreita estrada

Assumi um cheiro de bode, de uma boiada

Esse bioma, na verdade, é o que mais tenho

Quando preparo as sementes na terra arada

Sou um boiadeiro nas alpercatas do bisavô

Sou um homem do mato, na enorme criação

Sou um homem modesto e sou um doutor

As letras que falam e ouvem o meu coração

As linhas que tenho do infinito até o luar

Cerca morta, cerca viva, porteiras aladas

O cavalo do meu pai é mais feliz que todos

O gato e o cachorro do terreiro vivem a rir

São os cantos dos pássaros mais bonitos

Que não discutem se são pobres ou ricos

Que vivem tranqüilos sem nunca chorar

Flores amistosas que nascem no inverno

Esperam a seca das secas da seca passar

E enfeitam o cabelo e os olhos de Maria

De tanto assoviar à toa nesta estrada fria

E muito caminhar no mormaço do Sertão

Foi que eu vi o trabalho da abelha e o mel

Vi os lagartos das outras eras ancestrais

As cobras que não mordem, vivem em paz

O perfume do cheiro de chuva no curral

Simples, seres que fazem o bem, não mal

Fui mais um inocente numa tola capital

Onde vi tanto indigente nas marquises

Sonhos vivos e espalhada a maluquice

De tudo aquilo que no fundo é normal

Mas gera caos, numa sensação de crise.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 09.06.2025)




A CANCELA QUE PRENDE É A MESMA QUE LIBERTA



Tem pessoas que pintam à noite

Outras que optam mais pelo dia

Eu, ainda derrubo a madrugada

de uma cajadada só.

E acordo noutro dia vendo melhor.

 

Por que ela só pinta à noite e corre...

Durante o dia inteiro, me faz esperar.

 

Clareio a noite em fogo e luzes de paixão.

Tem gente que amanhece o dia todo dia,

como antigamente...

Sinceramente, eu não sei para onde vão.

A minha esbórnia se foi e nem me interessa...

Agora olho por streamings os seriados

A falta da vida que a morte traz e não presta.

 

Tem gente que pinta toda a hora do dia

e com o mesmo prazer nos acolhe assim.

Uma vez que ninguém é obrigado a brilhar,

Nenhuma luz também é capaz de ofuscar...

 

Esperei a morena passageira,

                                               tão metida e brejeira.

Quase eu ia acreditar...

                       Foi ela quem abriu essa porteira.

A cancela onde soltei meu coração para voar.

 

 

 (Cristiano Jerônimo )

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