De tanto
andar à toa nesta estreita estrada
Assumi um
cheiro de bode, de uma boiada
Esse
bioma, na verdade, é o que mais tenho
Quando
preparo as sementes na terra arada
Sou um
boiadeiro nas alpercatas do bisavô
Sou um
homem do mato, na enorme criação
Sou um
homem modesto e sou um doutor
As letras
que falam e ouvem o meu coração
As linhas
que tenho do infinito até o luar
Cerca
morta, cerca viva, porteiras aladas
O cavalo
do meu pai é mais feliz que todos
O gato e o
cachorro do terreiro vivem a rir
São os
cantos dos pássaros mais bonitos
Que não
discutem se são pobres ou ricos
Que vivem tranqüilos
sem nunca chorar
Flores amistosas
que nascem no inverno
Esperam a
seca das secas da seca passar
E enfeitam
o cabelo e os olhos de Maria
De tanto
assoviar à toa nesta estrada fria
E muito
caminhar no mormaço do Sertão
Foi que eu
vi o trabalho da abelha e o mel
Vi os lagartos
das outras eras ancestrais
As cobras
que não mordem, vivem em paz
O perfume
do cheiro de chuva no curral
Simples,
seres que fazem o bem, não mal
Fui mais
um inocente numa tola capital
Onde vi
tanto indigente nas marquises
Sonhos
vivos e espalhada a maluquice
De tudo
aquilo que no fundo é normal
Mas gera
caos, numa sensação de crise.
(Cristiano Jerônimo –
09.06.2025)