segunda-feira, 9 de junho de 2025

Os pássaros não choram


De tanto andar à toa nesta estreita estrada

Assumi um cheiro de bode, de uma boiada

Esse bioma, na verdade, é o que mais tenho

Quando preparo as sementes na terra arada

Sou um boiadeiro nas alpercatas do bisavô

Sou um homem do mato, na enorme criação

Sou um homem modesto e sou um doutor

As letras que falam e ouvem o meu coração

As linhas que tenho do infinito até o luar

Cerca morta, cerca viva, porteiras aladas

O cavalo do meu pai é mais feliz que todos

O gato e o cachorro do terreiro vivem a rir

São os cantos dos pássaros mais bonitos

Que não discutem se são pobres ou ricos

Que vivem tranqüilos sem nunca chorar

Flores amistosas que nascem no inverno

Esperam a seca das secas da seca passar

E enfeitam o cabelo e os olhos de Maria

De tanto assoviar à toa nesta estrada fria

E muito caminhar no mormaço do Sertão

Foi que eu vi o trabalho da abelha e o mel

Vi os lagartos das outras eras ancestrais

As cobras que não mordem, vivem em paz

O perfume do cheiro de chuva no curral

Simples, seres que fazem o bem, não mal

Fui mais um inocente numa tola capital

Onde vi tanto indigente nas marquises

Sonhos vivos e espalhada a maluquice

De tudo aquilo que no fundo é normal

Mas gera caos, numa sensação de crise.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 09.06.2025)




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