sexta-feira, 12 de março de 2021

Narrativa de um passado


  

Posso voltar a pular

dentro do depósito

de algodão de vovô

e sentir o macio

do meu corpo

de criança.

 

Posso comer

fruto de palma

nas passagens

da roça farta

nada falta,

nesta criança.

 

Léguas vividas

em carros-de-boi

subindo a Serra

do Minador

e do vale

do Boqueirão

da Barra

que farra!

 

Posso comer

queijo ricota

derretido

no tacho

a farofa

da minha avó

raspas de queijo

de manteiga

com farinha

de mandioca.

 

Posso tomar

maravilhosos

banhos no riacho

sempre

que uma enxurrada

me deixe em êxtase

posso me banhar

no sangradouro

do Açude dos Paes.

 

Posso subir a serra,

íngreme, de moto

tomar leite de vaca

leite de cabra

puxa-puxa

da madrinha

tirar colméias

e comer o mel

andar na roça

e comer melancia

chupar cana

comer banana

mamão e lichia.

 

Além da lembrança,

posso viver hoje

o meu passado

mais sublime.

 

Quando volto,

eu sinto a fartura

e o flagelo da seca

numa dicotomia

que me leva

a reviver e relembrar.

 

(papel, caneta e word

para poder registar).

 

 

 

(cristiano jerônimo – 12032021)

 

quinta-feira, 11 de março de 2021

Nem a morte salva

 


Aniversário é do que começa

Saudação ao que transmuta

A vida imprevisível e certeira

Outra que nem a morte salva.

 

“Pi”, dízima periódica e contínua,

Subatômica, frequência circular,

A matéria menos densa é real

E dá até para nos comunicar.

 

Realidade é o que se leva e traz

Moléculas tão invisíveis sem luz

Para não ofuscar a terra escura

As garras da ganância que seduz.

 

Tão difícil buscar-se numa Pandemia

Com a solidão do isolamento social

Incertezas parecem maiores que a fé

Do que a esperança de dona Pandora.

 

O final do mundo é mais um reiniciar

Tudo se arrumará de um jeito inteiro

Nobres sentimentos e feitos dos filhos

Cada um será o seu próprio timoneiro.

 

Chegaremos idosos ou não à melhora

Senão nossos gametas de óvulos sãos

Irão construir uma nova escada sólida

Desta vez, sem ser descendo ao chão.

 


Aniversário é do que se inicia

Saudação ao que não é mais

A vida certeira é imprevisível

Visto que nem a morte salva.

 

 

  

(Cristiano Jerônimo – 11032021)

segunda-feira, 8 de março de 2021

Descansar a ilusão


Eu ando tão sumido

Que não encontrei

Você naquela noite

Sei que não estavas.

 

Eu ando tão desligado

Nem prestei atenção

Estavas ao meu lado

E não houve a visão.

 

A ilusão do prisioneiro

Tolhendo sua liberdade

O volume do dia inteiro

Na rua, sem ter piedade.

 

Centelhas de espíritos

Descendo para auxílio

O povo ouvindo gritos

Com nada de empecilho.

 

Eu ando tão ocupado

Até lockdown é bom

Para terra, só arado

E descansar a ilusão.

 

 

 

                                                                                                               (Cristiano Jerônimo – 08032021)

Algum paradoxo

Só sonha quem tem fé Só chega quando anda Olhar só da varanda Não gasta a sola do pé Ser sempre muito forte Não contar com a sor...