sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

O Azul do Infinito



(Cristiano Jerônimo | Lula Côrtes)

O escuro azul, tão bonito
da abóboda estrelada...
contendo em si sóis incontáveis
Pulsa calado e vivo
Em seu mistério eterno...

De uma indecifrável solidão
Intergaláctica...
No amedrontador
Da mais exata geometria,
Na qual, estrelas, explosões
E planetas no absurdo mapa.

Sugere aos olhos
Dos homens curiosos
Um vazio maior
Que o mais vazio da alma...

E por milênios incontáveis
De incontáveis eras...
Na inimaginável constância
Da expansão eterna...
Os pobres de espírito,
Diante do infinito,
Implodem aturdidos
E se resumem à terra!


(Calheitas - 1993)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Mouros ibéricos



O sangue que sangra frio
Num corpo de calafrios
E os clarins dos meus sinais
São os jardins das capitais.

O sangue que é transparente
É de barata, não é de gente...
A crueldade dos mouros
E a brabeza dos touros.

São lembranças de sangue
Exemplos de perdão, paz
Sem resultados no Sertão
E em Gaza, na Palestina.

Tristes homens que duelam
Sob a arrogância que exibem
Não têm outra razão revelam
Que na verdade não existem.


(Cristiano Jerônimo – 17.02.2017)



Numa boa



Vou tomar um cafezinho
Para esquentar
Ou mesmo um sorvetinho
Pra esfriar
De forma pueril
E profunda,
Táticas de guerra
Pra sobreviver.

Vou tomar o meu chazinho
Abraçado com a bênção
Dos caboclos juremados
Poetizando o passado
Com uma cultura oral
Infinidade de segredos
Que os sinais digitais
Rasgam nas culturas
Supérfluo e nada mais
Por todos os lados
Quem já sabe pescar
Quem está sem vara
O despudor está na cara
E o amor próprio se afundou.

Passa mais um cafezinho
Que a conversa está tão boa
Eu nunca mais vi aquela pessoa
Quero te encontrar em Boa Viagem
No meio do céu azul e do sol ardente
Quem sabe, andar no calçadão à toa
Tomar água de coco na barraca do coroa
E entrar no mar, feliz da vida, numa boa.




(Cristiano Jerônimo)

"É preciso estar atento e forte..."

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

A cabeça na cancela pendurada

Cena chave do enredo do filme "Abril despedaçado"


Nossos homens morreram.
Ficou a nós a incumbência
Da qual eu fugi e ainda fujo;
De vingar e me tornar sujo.

Sujo de sangue num ilógico cangaço
Sobrevivendo num sequeiro escasso
De água, de pão, de nada e de amigos
Da insignificância do rifle ao inimigo.

Apenas para vingar a morte do irmão
Que se foi por causa de uma lei ilegal
Que existe na cabeça dos seres maus
Que acabam com as famílias inteiras
E perdem também outra parte igual.

A camisa amarelou. A trégua encerrada.
É chegada a hora de usar o calibre 44
Vão pra cima. Se não morrem, matam.
Deixam a cabeça na cancela pendurada
Sem saber qual o sentido do que plantou
Porque tudo isso parece não levar a nada.
E eu fugi...



(Cristiano Jerônimo – 06022019)




terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Iniquidades e caos – Sátira II



A força do dinheiro
A mística do dinheiro
Coisifica o coração
Desclassifica a emoção.

Imposição ou chantagem?
E os direitos constituídos?
A independência da mulher?
De puder fazer o que quiser?

Mas a mística, a força do dinheiro
Gera pequenas corrupções, lapsos
E para quem não observou o futuro,
Um longo muro espera com senha para sair
Por abrires mão dos teus direitos. Pior!
Da tua liberdade. Triste...

Capitalista quando se precisa do capital
Submissa até mesmo ao próprio mal
Tudo para puxá-la da escada que abre-se;
Sendo criaturas cheias de iniquidade e caos.

Sabemos que nada é movido por maldade;
É porque está muito duro viver nesta cidade
E a gente termina por ceder a própria dignidade;
Protestar de casa, do computador, celular...
Sem combatividade para nossa conectividade.

Há também a falta de coragem de buscar o que é de direito
- Quem alisa chantagista há muito mais que merecê-lo
Como que se um feed back custasse algo para vossas barrigas
Essa história arrepia dos pés aos cabelos e tintas e novelos.
Eu vejo o panorama e é difícil para olhar e assim crê-lo.



(Cristiano Jerônimo 30122018)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

II (dois) - I (só)


Ela
não está inclusa
no círculo
de meus objetos de relações
teu amor está de fora
das noções comparativas e mendicantes
dos sentimentos humanos
porque não tenho sentimento algum por ti
porque os sentimentos supõem a ausência do amor
ou sua fraqueza
e é de fora de todo sentimento
que a representação pura e única
dos meus desejos
me liga sem medo
às representações violentas de minha morte
e é ainda
fora dos sentimentos
que a representação pura e única
me faz entesar e descarregar
fora
imagens hipnagógicas suplementares
da masturbação
fora
da curva nostálgica
dos lugares-comuns perversos
fora dos relógios sensibilizáveis
por meio
de uma multidão de tinteiros
colocados em equilíbrio
ao longo de teu corpo alongado
sobre um travesseiro de algas marinhas
cor de merda
de fora
das estratificações mentais
que nascem
de origens hipoteticamente sensíveis
da fixação narcísica
de meus próprios cheiros
hierarquicamente
o cheiro dos meus pés
o cheiro do debaixo de meus colhões
o cheiro da minha glande
o cheiro das minhas axilas
o cheiro de minha própria merda.

SD | Esp

domingo, 3 de fevereiro de 2019

Para você dormir




Nasce na manhã
Com aquele sutiã
De babados
E rendas pueris
Nestes teus quadris;
De mulher novilha
Estrela que brilha
Neste doce carnaval.

Sempre de manhã,
Como uma cortesã
Com seus sapatos
Seguem os passos
Que se apagam
Madrugada, matinal
Neste louco maracatu
Que hipnotiza o segredo.

À tarde e à noite,
Finais de semana,
Você desencanta.
E quando dorme,
Parece uma criança.
Eu posso te ninar;
Pegar no teu bumbum
Para você dormir, te balançar.


(Cristiano Jerônimo – 23.05.2017)

Vamos conversar

Pela primeira vez, Vamos conversar Nossos diálogos Sem monólogos Ouvir a alma da voz Se precisar explicar Que fiquei sem saber...