terça-feira, 17 de novembro de 2020

As sombras das nuvens


Cristina olhava pela janela do seu quarto a paulatina aglomeração de nuvens, que ensombravam a paisagem enquadrada pela janela aberta. Seus irmãos estavam na roça e eram quase cinco horas da tarde. O volume veloz da água estourou açudes e cercas, levou animais. O terror logo se fez presente, quando o ribombar dos trovões e o reluzir dos relâmpagos entraram em cena, como estouros e pipocos, raios múltiplos na imensidão.

Os olhos de Cristina esbugalhavam-se de medo, mas não conseguiam parar de olhar para a terrível tempestade que já despencava das alturas. Suplicou, com fé. E agiu para enfrentar a chuva de granizo que deitava no chão e no telhado, onde as goteiras enchiam baldes. E cada vez o seu medo se tornava menos infinito.

Passadas algumas horas, a tempestade se foi e o sol brilhou com muita intensidade, enxugando o que tinha vindo de muito, graças a Deus. O ar era o mais puro, parecia ressaltar as cores da natureza encharcada, aguada. Com certeza, todos foram plantar, criar e aproveitar a terra molhada para colher.

Acalmou-se a menina sem atinar que o Astro-Rei nunca deixou de brilhar, acima das tormentas passageiras. A luz necessária é doada diariamente, no mesmo horário, sem nunca ter sofrido um atraso. A lua aparece do mesmo jeito. O universo de Cristina estava lá.

Dona Pérola explicou que nós agimos assim constantemente e muito sem perceber. Diante de problemas e dificuldades, ficamos aterrorizados e às vezes perdemos a esperança. Tudo isso, fruto da nossa fé, que ainda é muito frágil.

Não! Não! Não! Cristina precisa sim ter em mente que, por pior que sejam as tormentas em que nos situemos, o Sol do Amor de Deus jamais deixará de nos sustentar e que, passado o vendaval, podemos sair reluzentes, se mantivermos uma atitude resignada, tal qual a natureza. Que possa ela, então, ter em mente uma certeza: Nunca estaremos desamparados.

 

(Cristiano Jerônimo – 17112019)

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