Os ninhos
dos casacas-de-couro nos caminhos
São incontáveis
diversões na janela do ônibus
Que ninho?
De onde saem os belos passarinhos
Aquela
ânsia de chegar em casa de verdade e rir
Era um
tempo em que estava dentro da floresta
E outro
momento fatal que me pôs pra fora dali
Mas eu
fui, eu resisti, linha de frente nas lavouras
Lembro
hoje dos cabelos brancos do meu bisavô
Minha
madrinha imaculada filha de escravos
Benzedeira
de tirar doença, sono e mau olhado
Meus
padrinhos, meu Pai Avô e minha Mãe Avó
O inocente
tido como doido já deve estar no céu
Penso no
encontro com cada um desses amores
Para além
da vida cotidiana e das nossas dores
Um engenho
moendo cana, rapadura à direita
A fornalha
queimando à esquerda a farinhada
As produções
eram festas no mel da moenda
De onde vem
é inóspito e parece esturricado
Numa área em
processo de desertificação
Casas
fechadas, janelas abertas do abandono
E da
mulher que espera seu marido há 20 anos
Viúva da
seca, o marido botou outra em seu lugar
Nos
invernos, a água faz florestas na caatinga
Água o dia
inteiro e o medo constante de acabar.
(Cristiano Jerônimo – 10.07.2022)
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