segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Positividade tóxica


Depois que proibiram a tristeza de ser triste

A felicidade tornou-se mais difícil de alcançar

Além de definida e estudada,

É obrigatório na escola da vida.

Então, ser feliz ficou sendo o que se aparenta

Na escola, na igreja ou no mercado

Ah, essa positividade é tóxica;

Força a gente a forjarmos falsidade.

 

Foi numa multinacional que me perdi

Sucesso: promoções, viagens, bônus…

A cabeça “atrofiava” e a grana aumentava

Todo esse conteúdo me deixou vazio

Eu buscava sentido naquilo e não achava

Era muito pouco para uma alma que existia

Fiz voluntariado na espiritualidade

Investi em projetos paralelos e cases de arte.

 

Mas faltavam propósito e bem-estar, o bem

nas relações humanas... Eu via e sentia o nada

Faltava a fé que poderia apontar o significado

Da vida, da morte, da sorte, do meio do espaço

Por bem, havia uma conexão com a natureza,

com a coletividade e uma causa para os dias

Eu vi que a felicidade é uma combinação

entre alegria, satisfação e significado de vida.

 

Mas lá estava o piloto automático da sobrevivência

Redes sociais e necessidade de dopamina automática

De uma gratificação instantânea

numa sociedade impaciente e ansiosa

Sempre em busca de mais estímulo

e cada vez menos satisfeita

Ávida por pequenas doses de prazer:

likes, séries, compras, vídeos curtos e streamings.

 

E havia sempre uma sensação de cansaço, vazio e tristeza crônica

Diante da ditadura da felicidade, sem poder ficar triste, com raiva

Mesmo frustrado com aquele programa de sol que choveu errado

A dor anestesiada anestesia a alegria genuína do prazer e desafios

Não devemos invalidar a dor; a nossa dor ou a dor do outro próximo

Muita gente está exausta de tentar performar felicidade o tempo todo

Mais conectados, menos acompanhados, numa rede de solitários

Quem se acostumou a viver sozinho, ser forte o tempo todo tem um preço.


Deixei o trabalho mesmo havendo boletos, filhos, insegurança e cartão

E me protegi criando a minha bolha de autocuidado e rede de proteção

Não fui fraco por estar cansado. Pelo contrário, fui muito forte por resistir

Lembrei do Grupo de Hábitos Saudáveis do psicólogo cabeludo do agreste

Nossos Z’s querem mudar o mundo e não podem ficar paralisados

Dizem que dá até para ser feliz a vida inteira sem mesmo pestanejar

Felicidade plena não é a ausência de dor, mas a presença de sentido

Viver boas relações com as coisas que mais nos façam avançar.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 25.08.2025)

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Acredita!


Aprenda a levantar a cabeça

para que não se esqueça:

o tempo não há de voltar.

 

Descanse, para olhar segura

por ser bela a vida é dura

e sempre haverá de durar.

 

Sorria, essa praia é divina

no horizonte, a menina

encontra o lastro do mar.

 

Brinca, voam embarcações

alando os nossos corações

que só mergulham pelo ar.

 

Acredita, o destino é nosso

é mentira acreditar no poço

e é verdade não acreditar.

 

 (Cristiano Jerônimo – 22.08.2025 – 17h25)

domingo, 17 de agosto de 2025

परमात्मन् – Paramatma


Muito além do psicólogo analista,

não quero falar apenas de coisas boas

com pessoas amadas.

Na felicidade, quero comentar a incompletude da vida,

a inconsistência da maioria das relações humanas;

o vazio que aterrisa com velocidade no peito;

o lado que a moeda não tem cunhado;

a vida que precisa de vida para ter sentido;

o sentido que não mora sempre ao lado;

o futuro que a ansiedade nos consome;

um sopro que nos empurra e outro que paralisa;

a roda que sobe e desce num eterno girar...

Para lá do padre, do pastor, do rabino, do budista,

o Paramatma individual não tem dono,

senão o grande Uno;

uma parte divina que habita dentro de todos nós;

as escrituras que herdamos dos profetas;

os escritos resistentes assinados por poetas;

as portas abertas dos sertões das nossas almas;

as comportas das represas que vertem água...

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 17.08.2025)

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Os poetas nos dizem



Árvores falam

homens não ouvem

árvores calam

homens motores

pessoas falam

árvores ouvem

pessoas calam

árvores flores.

 

Gente de amores

pessoas de dores

chuvas te lavam

chãos lhe aquecem

águas são claras

mas se esquecem

não haverá inverno

no calor do inferno.

 

Combustíveis fósseis

energia limpa e suja

sobre os automóveis

sobre o céu que pinta

nega-se por imediato

com tanta farta riqueza

não há filhos nem netos

que sobrevivam a isso.

 

[Ah, mas há essa mania

de desconfiar de tudo

o que o poeta nos diz...]

 

 

 (Cristiano Jerônimo – 11.08.2025)

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Ainda que seque, há esperança


      

    I

Tem mais céu no alto da serra

Mais estrelas no azul cósmico

Douradas num chão estrelado

Riscados sobre o branco papel

Guiados nos voos das abelhas

Girando n’água do azul do mar.

 

        II

A enxurrada do riacho adormecido

É o Natal do verde que era só seco

O cheiro do marmeleiro avisa longe

O hálito do curral do gado na chuva

O engenho velho que traz a saudade

A bolandeira que ensacou a farinha.

 

        III

Os lajedos molhados sem poeira

A água lavando o terreiro, estrada

Pulando as porteiras encharcadas

As caiporas fumando nos cabelos

As tranças nos rabos dos cavalos

Ainda que seque, há a esperança.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo – 08.08.2025)

  

sábado, 2 de agosto de 2025

É tanto!


Catia B.

Esse encantamento

Não causa medo

Nenhum espanto

Não é segredo,

É muito tanto!

 

Nunca mais esqueço,

Tu és capaz de escorrer

Entre os dedos

Como metal líquido

Sem cair no piso

Como um mercúrio

Como um delírio

Nem dissolver

Como um sal.

 

Permanecer,

No caso,

É tua força

Para mim

Teu cheiro

De fêmea

Que me exala

Eterno cio...

 

E esse encanto

É segredo

Pouco espanto

Pouco de medo

Do que é tanto!

 

 

(Cristiano Jerônimo – 27.07.2025)

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Outra forma de mais valia


Não jogo nos jogos de Schopenhauer

Não acredito nas paixões contidas

Não sou mecânico de amor partido

Não dou adeus na sensação partida.

 

Enquanto buscam-se caminhos fáceis

As coisas tornam-se bem mais difíceis

Já quando desço pela trilha da verdade

Vejo uma mata sobre o véu desta cidade.

 

Não brinco brincadeiras de mau gosto

Prefiro olhar bem para o seu rosto

Quase como fosse me apaixonar

Eu vejo o horizonte que guardas no olhar.

 

Enxergo teus grilos e tua luta para pular

E só sou mais forte quando sirvo o outro

Só sou mais são quando me torno louco

E quando me recomponho, vou trabalhar.

 

Não aposto no turfe nem tampouco na vida

Não acumulo mais ferida sem ela sarar

Uma por uma, as experiências para pensar

E chegar à minha frase real e preferida.

 

Não sou mesmo cigano nem vim da tribo

Querer ser minoria é uma pura hipocrisia

E para ser maioria basta saber que se foi

Outro tempo, outra forma de mais valia.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 28072025)

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Vezes sete



Lembro das suas botas postas pretas

Canos longos, sobretudo pela friagem

A manhã de neblina sobre o teu corpo

Uma cama macia e morna no teu rosto

Um dia a mais no sopro leve desta vida

O prazer de uma sombra bem quista.

 

Muito intenso por não ser pouco

Muito pouco por ser tão intenso

E vou, pois não calo, falo e penso

Picoto os papéis azuis de estêncil

Num mimeógrafo de cunhar o tempo

E numa moeda com apenas uma face.

 

Nunca meça a dor pela régua do sorriso

Serás feita para leitos e ar condicionados

E nada tem o sabor de coisas que acabam

Nos carimbos rupestres, o tempo se arrasta

Quatorze libras de pressão no alto do peito

Quatorze asas de libertação e de coragem

A valentia de perdoar setenta vezes sete...

 

 

(Cristiano Jerônimo – 24.07.2025)

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Ah! O tempo, esse espaço abstrato


Esse calendário gregoriano

Esse relógio ponteiro suíço

Não nos fala sobre os anos

Mas exigem muitos planos.

 

Na velocidade da rede, sinta

Os extremos se aproximam

Os esquecidos se eternizam

E os macacos usam as tintas.

 

Essas datas católicas históricas

São Benedito a mesma retórica

Gostar sem ser correspondido

E ainda ter capacidade de amar.

 

Não há mais egípcio lutando

Perseguindo no Mar Vermelho

Nem mais índios muito “tolos”

Se encantando com espelhos.

 

Práticas de assaltos aos fracos

Natureza da própria fraqueza

Cobiçando o brilho da riqueza

Sem ninguém para acioná-los.


Morte a todos os reacionários.

 

(Cristiano Jerônimo – 16.07.2025)


sábado, 12 de julho de 2025

Paz sem guerras



Tem hora

que a maior vitória

é não vencer a guerra.

 

A luta também se vence

retirando o Exército

e dominando o novo.

 

Um novo território

menos inóspito e

complicado.

 

A Infantaria

surpreende

o adversário.

 

Guerra é guerra;

não há paz

na tirania.

 

A paz faz mais

pelo direito

à democracia.

 

Eu também

não tenho medo

de perder a batalha.

 

Já que, ao final,

todos os lados

sempre ficarão 

com suas tralhas.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 11.07.2025)

 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Sentimentos e tal



O tempo voa

nas asas do condor

acima dos Andes

segue o amor

nos corações alados

que às vezes pousam

ora descem forçados

tão disfarçados

sobem na dor

e remoçados

planam no calor

com asas de frio

e bico de flor.

 

Nos oceanos

cabem milhões

de pituitárias

no coração

dos peixes vazios

no andar dos rios

pleno verão

nesta chuva

os sabores

diversos

moram na alma

masculina

feminina

no olhar pineal

da melatonina

no sono-vigília

circadiano cerebral.

  

(Cristiano Jerônimo – 10.07.2025)

Positividade tóxica

Depois que proibiram a tristeza de ser triste A felicidade tornou-se mais difícil de alcançar Além de definida e estudada, É obrigatór...