sexta-feira, 2 de julho de 2021

Farinhada


Coloca o beiju na massa,

Que nós vamos subir a serra

São quatro dias de farinhada

Rapando e moendo mandioca

Rochedos laranjas ao redor

Enquanto a goma decanta fina

A farinha queimada e mexida

Com gosto de goma e nata

O coco que minha avó me deu

Colocando a lenha no forno

A bolandeira e a maniçoba

Os homens cantam samba de coco

As mulheres rezam suas ladainhas

Todas as redes para dormirem

Eu que era apenas uma criança

Vi o moinho do vento girar no ar

A farinhada também tinha cantoria

Enquanto todos trabalhavam

Coloquei muita lenha para queimar

Farinha, na chapada de uma serra

Fria, de uma vegetação mais densa

Verde vivo sobre o bioma caatinga

Os brejos de altitude estão em nós

Quando acabaram com a farinhada

Junto com isso uma grande tradição

Sambada de preto e coco do sertão

Desafio de viola travado em versos

Sob os motes mais tensos e adversos

Sempre lembrando do fim de coisas

Prensa de sacos de farinha molhados

Pra não falar do engenho de cana

Onde a cooperação humana

Fazia todo mundo ganhar.

Eu era apenas um menino

Germinado naquele sertão de sol.

 

 

(Cristiano Jerônimo – 02072021 – Taubaté – SP)

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