quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Fantasias da natureza



O voo dos colibris metálicos e verde azulados pairando e bicando as fêmeas das flores, sugando o esplêndido néctar que nasce da vida, me fez pensar na vantagem de ser pássaro e na desvantagem também. Primeiro, eu tenho medo de altura. Os mais altos gaviões que vi voavam muito alto. Acho bonita a missão dos pássaros, das abelhas e de outros insetos que são escola para a vida inteira em sociedade. As formigas respeitam a colmeia e não ousam adentrar no enxame. Uma taça de vida num lugar agradável transformou-se num imbróglio. Foram os piratas da terra e os piratas do mar. Foram imperadores tiranos. Uma ave pousa para beber. O que fizeram com o planeta? As arraias morrem entaladas de plástico nos corais. Coco gelado na beira da praia, canudo. Eu não tenho nada com isso. Mas se for pássaro, terei que acordar às 4h da manhã, voar a maioria do tempo, quilômetros, até umas 17h, procurando um lugar para dormir. Afinal, nem todos os pássaros têm um ninho. Ninhos são diamantes somente antes de aprendermos a voar, porque no ar está a missão de bater as asas com afinco sem sair da rota. Não nego a parte tranquila da vida de um passarinho (todos parecem animados, menos a coruja que passa a noite acordada). Vivem comendo aqui e ali, passeando no vento de um destino diário. Contudo, com a eterna paranoia de viver ansioso fugindo de outros seres animais, do homem terrível. Fosse eu defender pombo. Jamais. Odeio. Mas nunca os matei. Já as garças são todas iguais. Você vai sempre confundir uma com a outra. Disputam com os anuns os carrapatos do gado da pastagem serena. É que nem o gato. Respeito, mas não deixem o seu gato vir se esfregar na minha perna... É a mesma coisa que me mandar embora. É isso mesmo. Também tenho medo de rato e de cachorro brabo. Quem vê diz que eu não sou macho. Até que uma barata saia voando para cima de mim. Acho que vou de pássaro e serei um galo de campina, de terno e gravata, com um lenço saliente no bolso. Poderei entrar na igreja, visitar os distantes. Ninguém acreditava que era eu. Não havia como convencê-los que me transformei num pássaro. Foi quando pintou a oportunidade de trabalhar como estivador ferroviário. Neguei o cargo e disse que poderia fazer a segurança da carga durante todo o seu trajeto. Oras, eu... um portento no voo... vou ficar agora carregando peso. Eu sou um passarinho, rapaz!

 

(Cristiano Jerônimo – 20102022)

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