Cristiano Jerônimo Valeriano
Jornalista, professor e acadêmico
Bicho, sinceramente, eu estou
dando uma sofrida ainda nestas questões de falar politicamente correto e tal,
muito essencial. Havia toda uma ideologia bruta contra comportamentos “inadequados”
à época. Nos 2000, eu e outros companheiros repórteres, editores, fotógrafos, publicitários
partejávamos nos imaginários, os tipos de associação da ilusória Confraria dos
Machões. E olhe que eu nunca tive preconceitos contra gays ou outras expressões
de gênero, acho que atraem felicidade, amor. Das lavadeiras que
eu vi, a máquina de lavar comeu a ôia. As que conheço são todas amigas e reclamam
da máquina de lavar. Eu lavo sozinho.
Não, gente, eu também não vou
escrever "todes" nem a pau nem a cacete. A favela está sendo vendida como
"comunidade", como ilusão. Vem a dificuldade que há por causa da
pirâmide, que por mais que a gente ande, nunca chega lá. É infinito desejar. Com
FHC, caloteiro passou a ser chamado de inadimplente; criminosos viraram
suspeitos e por aí vai. Rapaz, o legalismo brasileiro tem que ser equalizado de
uma maneira flexível com a quantidade de leis que não estão sendo cumpridas. O
narcoestado, a internacionalidade, as práticas criminais que corrompem um pedaço bom dos nossos juvens, a maioria negra e pobre. Cada crime deixa o seu DNA. Cada lapada deixou sua marca.
O mais confuso... Cheguei no
formulário online da internet e, para fins de concurso público, eu preenchi meu
nome e os documentos. Mas tinha uma espaço com muitas alternativas para optar pelo minha orientação sexual, mas nenhuma etapa me
oferecia a opção adequada: mulher ou homem. Li o campo da inscrição. tudinho.
Ao final, eu disse: - tô fodido. Não consigo saber qual a opção do meu sexo,
sei lá. Tenho que me escrever logo.
Mas eu pedi a Deus uma saída, Ele atendeu. Lá
embaixo, entre as opções de pessoas com gêneros diferentes, haviam almas
humanas e na pergunta sexo, ele marcou. Marquei até sem querer. Mas me bateu
uma paranóia depois. Fiquei com aquilo na cabeça à noite. Lembrei antes, nos
cantos, que seriam três alternativas: 1) Masculino; 2) Feminino; 3) Outro. Justamente
o Outro que eu escrevi na lista do Enem. É um caralho. Tô surtando Kráio, aqui
na favela é assim! Marquei na outra prova, o “Outro” daqui. Essa coisa de “...foi
o Outro foi...”, o que me sobrou da
inscrição do vestibular. Esse foi o meu sexo escolar mais corretamente
político. Vi as árvores do bosque encantadas e brilhantes, cores.
04.10.2025
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