sexta-feira, 13 de maio de 2022

Nada de novo nas cercanias


Pulou embalado surfando no ônibus lotado

Seguiu correndo pela calma da beira do mar

Um tubarão que tinha pernas correndo atrás

No calçadão da avenida para pegá-lo por detrás

Um caboclo de lança flutuava pólvora no cravo

Um maracatu rural descia pela ladeira e evoluía

Mergulhava embalado no canal escuro da cidade

Procurando a memória pela própria identidade.

 

São os meninos “sem futuro” que vivem invisíveis

Que, desconhecendo da vida os desníveis, desce

Quando muito, a sua falta de indignação cresce

O portal das suas saídas é maltratado e apodrece

De cada um partirá novo rumo e o lado da escada

Subir os degraus pela parte de trás não é prudente

O Estado tem o dever de pagar para toda essa gente

De fazer com que o nosso povo ande ali para frente

E que a turbulenta correnteza mude sempre o fluxo

Na tocaia de voltar para casa quando a maré baixar

Catando mariscos, caranguejos, chiés na beira mangue

O sertão com olhar quente de longe e do bigode seu fio.

 

Leva para a cidade tua coragem, o superar desafios

Volta para a roça que plantou e vê tudo perdido

No outro ano a safra será boa e trará fartura

Só que passar dez anos de seca ninguém atura

Entra ano e saio ano, e urbano o povo acredita

Foi embora para um grande centro metropolitano

Depois foi obrigado a se arrumar para voltar

Porque não estava bom nem aqui nem estava lá

Pula embalado no ônibus frio e lotado, sacola ao lado

Lembra da criança feliz que era, vai despreocupado

No que habita o âmago de cada um de nós

Precisamos ter mais voz; o processo é feroz

Ou muda para sempre ou não muda nunca mais

Os iguanas levantaram o pescoço e disseram sim

Foi um aceno de amor para você e para mim

Foi o início daquilo que nunca terá um fim

Perpetua-se para que façamos tudo novamente.

 

 

Cristiano Jerônimo - 13052022


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