domingo, 29 de dezembro de 2024

Um homem a desvendar



As estradas do caminho

reconhecem minhas botas

a timidez de olhar teu riso

teu  jeito rouco de andar

a minha carabina de partir

a bandeira para a paz

por lá ficou e vai estar

do que não mais vou partir

do que nunca mais vou voltar

e de tudo que há por vir

no cinema da cidade de lá

o duelo e a amizade

falta a mim essa saudade

sigo em frente

em linha reta

escrevendo

na primeira pessoa

não gosto de metrópoles

sou feliz em joão pessoa

o calor do ser humano

sem a frieza da garoa

as veredas do caminho

conduzem-me à uma tribo

sou um índio repentino

sou um homem, sou menino

sou um ser a desvendar

as trilhas que me desviam teu olhar.

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 29122024)

Milagre natural



Deus fez brotar

da planta seca

a folha e a flor

o sumo e a cor

do nada o amor.

 

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 29.12.2024)

sábado, 28 de dezembro de 2024

Instinto de Leão



Se és vítima de uma sorte injusta,

Pensa, em primeiro lugar, em salvar a tua vida

E deixa tua casa a lamentar sozinha

O destino daquele que a edificou.

 

Sempre encontrarás um meio de trocar

Tua pátria por outra,

Ao passo que, perdendo a vida,

Nenhuma outra a substituirá.

 

Nos negócios importantes,

Não é teu conselheiro quem decide:

Chegado o momento, a decisão final

Só a ti pertence.

 

A força que infla o pescoço do leão

Só vem do próprio leão.

E ele, para contar com ela,

Terá de obedecer ao próprio instinto.

 

Reveste teu corpo deste hábito

A fim de te salvar do perigo;

Amanhã reinarás como senhor

Sobre todas as criaturas deste mundo.

 

Tu, cuja face é esplendor

E cuja fisionomia é

Tão bela que recorda o fulgor

Da lua na madrugada.

 

Eu te prometo que tua força

Dia após dia se mostrará

E, por toda a eternidade,

Brilhará tua alta glória.

 

 


(Valeriano – 27.12.2024)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Somnia indigebilia

 


É difícil imaginar qualquer coisa simples, pois se no mundo não existisse o casamento, imagina quanta gente se casaria... Por isso, os seres humanos, enquanto não forem completos e livres, hão de sonhar apenas à noite. Porque nada é real, a não ser o sonho e o amor. Esse último é a comédia na qual os atos são mais curtos e os intervalos mais compridos. Como, portanto, ocupar o tempo dos intervalos senão com a fantasia?

Imaginais que a felicidade absoluta é o nada que desejais, pois há menos maneiras de fazer amor do que aquelas que se diz, mas ainda há muitas outras do que aquilo que se pode imaginar. O ser humano, esse louco sonhador de insignificância, se pensarmos bem, é mesmo ridículo. Eu sonho, mas por vezes penso que é a única coisa certa que devo fazer, já que a vida é um sono de que o amor é o sonho, é ter vivido se houver amado.

 

Ab aliis.

 


(Cristiano Jerônimo – 23.12.24)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Os naufrágios frustrados são ilhas de apoiar



Eu queria te ver sem roupa e, ao mesmo tempo, vestida naquele vestido de renascença branco de nuvens. Nem que eu fosse uma árvore perdida no pasto. Nem que uma estrela cadente caísse no pasto da água do rio. Mesmo que eu fosse uma ilha escondida no fundo mar rodeado de sereias. Porque me acostumei a nadar quando a maré vaza. No fluxo e refluxo, eu queria emergir no teu olhar, olhos marítimos de lágrimas de sal, com cantos sensíveis e sons para morrer de cantar. Eu queria apenas que a neblina fosse sóbria outra vez para o pensamento desanuviar quando eu pudesse enxergar os cascos furados dos barcos do passado e de um futuro betumado para esquecer meus naufrágios.

 

 (Cristiano Jerônimo – 20.12.2024)

 

Sandra


 

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Já não posso mais falar


As estradas do Sertão

Conhecem meus sapatos

Minha forma de vestir

Meu jeito tolo de andar;

A areia do riacho seco

Não areia mais panelas

O bacurau e a sentinela

A noite tão clara e o negro;

As veredas guias do gado

São lógicas de hipotenusas

Bichos andam em atalhos

Aqueles mesmos que usas;

Não há pedras de medusas

Muito menos assombração

O vira e mexe, acorda hora

Tempo vem antes da aurora;

Aquela velha saudade passou

Um outro sentimento chegou

Tudo passa se é fruto de paixão

Olhe a beleza do nosso dinheiro

Comparado ao belo singelo do mar

Disso, eu já não preciso mais falar.

 

 (Cristiano Jerônimo – 181124)

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Todos aqueles que estão por vir



Nas florestas imponentes

No futuro dessa gente

Chega até a não acreditar

O dinheiro é uma moeda

São dois lados invisíveis

Um que sobe outro da queda

Com uma vitrine no meio

Sem sutiã em teus seios

O suor foi todo o melhor

Manequins e intimidades

Na parede larga secular

Que capitalismo é esse?

A maioria apenas sonha

E, se tivesse em La Plata,

Iria plantar; o que fazer?

As caravelas que desfilam

No varal dos nossos recortes

O canto mudo do assum preto

O batuque da Serra da Zabumba

O sonhar com a terra prometida

Motor propulsor com ânimo zen

Adaptado pelo modo on e do bem

Se bem que bem para quem?

A mente já está bem decidida

A pele muda mais com a ferida

Eu não te vi envelhecer nem nada

Ninguém viu ninguém cresce na estrada

Sei da estatura dos meus sonhos

Para não deixar tudo desprotegido,

Conservar o planeta limpo e fresco

Para todos aqueles que estão por vir.

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 13112025)

terça-feira, 29 de outubro de 2024

São várias as trilhas



São várias as trilhas

Dos bodes nas serras

Das raras manadas

De brancas marrãs...


Que formam caminhos

Ao vago do ocaso

E que por acaso

Usamos então...


São pedras de ferro

Redondas pepitas

E as faces brilhantes

Das lindas xelitas...


E o sonho dourado

Do brilho da mica

Formando milhares

De estrelas no chão.


Seriam os lagartos

Tatus ou iguanas

Seriam as serpentes

Os silvos na noite?

Que longos e agudos

Por dentro das moitas

Por dentro dos vales

Se vão ecoar...


E que estranhos ruídos

Que ouvem assustados

Os homens do gado

Durante o escuro

São léguas no vento

São naves aladas

Pairando paradas

Por sobre o lugar.


Disco voador

Pode ser de ouro

Pode ser de prata

Disco voador

Pode ser de lata.

(Luis Augusto Martins Côrtes)












segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Movimento uniforme contínuo variado

 


Na verdade, não gosto dos espelhos

Sem intuição, penteio meus cabelos

Saio pelas ruas a sentir o que traduz

Indo sempre atrás da alma desta luz

Das cidades, como gosto de Floresta

Da pouca água que para nós nos resta

Da trilha que ainda falta ir desvendar

Para eles, qualquer espécie de segredo

Acima das reflexões, mancadas, versos

Pintando pensamentos, preto e branco

Que, na madrugada, vêm nos assustar

Amanhece o dia para bater o seu ponto

Acaba sempre à noite sem ninguém ver

Os sonhos e os vícios; Mestre dos Magos

Redundância oportuna, alma de aprendiz

O Ser humano tem o elo com o alto altar

Está nas escrituras, nas tradições do lar

Versos apurados em milênios passados

Sobre o poder que tem a ação da caridade

Sermos sadios e tranquilos na longa vida

Ser o que não quer faz parte disso também

Os tiranos ascendem destinados à morte

E, hegemonicamente, perdem o seu poder

Lá, a guerra cotidiana para se viver sóbrios

A fé e a esperança; a crença que vai mudar.

 

[O universo está em movimento contínuo.

Nunca no mesmo lugar. Não conseguimos

Mudar...]

 

 

(Cristiano Jerônimo – 26102024)

terça-feira, 22 de outubro de 2024

A maldição de Narciso


Todo dia

Narciso decide

O que é feio ou bonito.

 

Com seu reflexo

No espelho d’água

Admira-se e duvida.

 

Narcisa tem um lago também

E sempre cai na água

Que não reflete o seu ser.

 

É Narciso quem decide

O que é feio ou belo

Com sorriso amarelo.

 

Esqueceram de dizer

A Narcisa que quem ama o feio,

Bonito lhe aparenta.

 

Narciso morreu afogado

Olhando seu reflexo

Num espelho sem respostas.

 

Pensou que morreu bonito

Mas o narcisismo é feio

E, assim, Narcisa ficou viúva.

 

Mitologicamente,

Narciso era jovem, belo e vaidoso

Apaixonado pelo seu reflexo no lago.

 

Filho do deus do rio Cefiso e da ninfa Liríope 

Cortejado por homens e mulheres,

Desprezava as atenções lhes dirigidas.

 

A ninfa Echo apaixonou-se por Narciso e ele a rejeitou 

Eco pediu a Nêmesis, a deusa da vingança,

Uma maldição sobre o filho de Liríope.

 

Tal infortúnio era que Narciso

se apaixonasse intensamente,

mas não pudesse possuir a sua amada.

 

Narciso ficou com sede numa caçada,

Inclinou-se para beber a água de um lago

E acabou apaixonando-se pelo próprio reflexo.

 

Ao tentar tocar a imagem que via refletida,

perdeu o equilíbrio, caiu no lago e morreu afogado; 

Verdadeiro símbolo de vaidade e insensibilidade. 


(Cristiano Jerônimo Valeriano – 21102024)

terça-feira, 15 de outubro de 2024

De mão em mão



Os dias são tão diferentes

O mesmo que água de rio

Como na batalha, o desafio

As gregas e troianas mentes

Antes do Império Romano

Guerras só mudaram de data

A terra sendo sempre uma só

Com os mesmos sentimentos

Pobres; e outros mais nobres

Alexandria, Macedônia, o céu

Os mouros e bárbaros ibéricos

Minha descendência vai buscar

No coração do Brasil sérico

Fato que eu estou tão vivo

Que não pratico as quimeras

Mas uso-as para elevar a mente

Mais vale plantar uma semente

Do que desenraizar uma árvore

Preste atenção nos olhos d’água

Na secura da floresta viva e mãe

Prestando a tudo que se propõe

A única coisa sem ser da floresta

É aquilo que os loucos vendem

Excesso de monóxido de carbono

O pior é que eles não entendem

É preciso uma roda de comunhão

Para a natureza ser passada

De mão em mão.............................

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 15/10/2024)

sábado, 28 de setembro de 2024

Sonon pós night



A questão completa

A que é mais complexa

Sabe que não sou ninguém

Quando se diz quem é que pode

Dentro de mim há outro alguém

Minha natureza é mais de um bode.

 

Eu não sou mesmo a mesma pessoa

Que se alinhava noutros compassos

Como foram todos os meus abraços,

Sei que não há nada em linha reta

Nem nos mais fartos ou nos escassos

Argumentos para uma palavra certa.

 

Envolta e encoberta na nuvem que flutua

Nos lugares da capital pernambucana

A bailarina ou a cigana desafiam nuas

Todas correm para serem apenas uma

Volto para casa e levo o sono à ventania.

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 28.09.2024)

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Além das bolhas


Protetor, antes de sair ao sol

Protetor, no Cristo Redentor

Uma vida inteira sob o Protetor

Para tanto belo e tanta tralha

Numa parte do Rio falta amor

Noutra sobra e uma gata malha

Praia, pólvora e os seus biquínis

A Asa Delta da Godiva do Irajá

Morros brancos da mazelas finas

O veneno que se manda para cá

A América Central para traficar

Negociar sonhos e mudar perfis

Nem todos os céus são tão anis.


Com o reverso pra sair do furacão

Ser a terceira pessoa de si mesmo

Um tipo novo de amor no coração

A vitória diária do vinho e do pão

Impede que a estrada seja a esmo

E que não haja caminhos a avançar

Para construir vida fora das bolhas

Onde se valoriza o amor no coração

Onde é objeto de análise toda emoção.

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 16.09.2024)

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Religioso e profano



A solidão com vista pro mar de Marina

Trata-se de 24 horas de Barra/Ondina

Vida nova; para poder se reinventar

No caos que, de repente, se instala

Depois vai embora; a vida é uma saga.

 

Depois de um charuto e uma fina baga,

Nem o sol ou mar apagam minha brasa

O meu histórico é mesmo de escrachado

Sou aquele quem de você já traga, viu?

Por sinal, não acredito mais neste Brasil.

 

Boto o pé na rua e vejo uma repercussão

Ela está em tal lugar. Ele está no sertão

Ele está na seca brava da serra do torrão

Tão longe destas máquinas, somos delas,

Aquelas terras amarelas partem o coração.

 

Agora que, depois de ir para o seu caos,

Não me sinto nem um pouco tão mal

Na sua bondade, a natureza é histórica

Somos filhos da grande basílica católica

Jamais duvidei do meu Deus até agora.

 

 

(Cristiano Jerônimo Valeriano – 11092024)

 

MCMLXIV - ANISTIA NUNCA MAIS

A aridez das esquinas do povo Esse olhar velho que é novo Ninguém consegue explicar A doçura no rosto dos loucos Com essa insensat...